Vilão é um adjetivo determinista, maniqueísta até, que não casa bem com a estética do diretor Kleber Mendonça Filho e de seu parceiro e conterrâneo de Pernambuco Juliano Dornelles, mas é impossível negar a vilania traduzida nos gestos mais simples de Udo Kier em Bacurau. No papel de Michael, líder de um bando de americanos armados para matar habitantes de uma cidade do sertão, o cultuado ator alemão, de 74 anos, esbanja perversão. Parte do êxito do filme brasileiro, indicado para a Palma de Ouro no 72º Festival de Cannes, deve-se ao desempenho memorável (e inusitado) do homem que foi muso queer de Paul Morrissey (que fez dele o Conde Drácula e o Frankenstein) e parceiro habitual de Rainer Werner Fassbinder, Gus Van Sant e Lars von Trier.
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Em sua juventude, a imagem que os europeus tinham da realidade brasileira era mais tipificada do que a de hoje. "Quando se falava em Brasil, a gente pensava em rapazes e moças seminus pulando carnaval.
Há algo de que Udo se orgulha em seu modo de trabalho: "Jamais disse para um diretor que admiro ‘Gostaria de trabalhar com você’. Imagina se eu viro para o David Lynch, digo isso e ele me responde: ‘Quem não gostaria’. Amo Pedro Almodóvar, mas jamais pediria para trabalhar com ele.
Na coletiva de imprensa de Bacurau, Kier divertiu os jornalistas ao dizer: "Trabalhei em muitos filmes, mas há pelo menos uns 50 de que você pode gostar sem precisar de álcool para isso". Na mesa, Dornelles e Kleber estavam ao lado da produtora Emilie Lesclaux e de parte do elenco nacional - Karine Telles, Silvero Pereira, Bárbara Colen e Thomas Aquino, além de Udo Kier.
Até o momento, de todos os concorrentes já exibidos, o mais elogiado é Les Misérables, do francês de descendência maliana Ladj Ly, sobre um trio de policiais que se envolve em conflito com moradores de um local no subúrbio de Paris, com população majoritariamente negra. Francesa de origem senegalesa, Mati Diop - primeira mulher negra a concorrer à Palma de Ouro, assinando a direção de um longa - também teve forte torcida em prol de seu lúdico Atlantique, que mostra fotos deslumbrantes de Dacar.
No enredo, uma adolescente às voltas com um casamento arranjado sonha em rever seu grande amor, um operário que cruzou o Atlântico em busca de novas oportunidades, mas pode voltar em meio a um tumulto na vida da jovem.
Almodóvar
Nesta sexta-feira, 17, o Festival de Cannes confere o filme que, por honra ao mérito de seu realizador, Pedro Almodóvar, trouxe da Espanha para a França com status de queridinho da Cahiers du Cinema, Dor e Glória.
Lançado em março em seu país, o novo melodrama do diretor de Tudo Sobre Minha Mãe (1999) pode dar a ele a Palma dourada que alimenta seus sonhos há quatro décadas. No filme, Antonio Banderas é um cineasta com problemas de saúde e com vício que revê seu passado, numa retrospectiva de sua obra, revisitando as lições que recebeu de sua mãe, papel de Penélope Cruz.
"É uma trama tão autobiográfica como as outras. Por isso não autorizo que façam minha biografia: ela está nos meus filmes", disse Almodóvar ao lançar o longa na Espanha. Há quem aposte em prêmio de melhor ator para Banderas. Mas Udo pode ser um rival à altura.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..