Exibido na quarta-feira (15) à noite o filme, que disputa a Palma de Ouro, conta a história do vilarejo imaginário de Bacurau, no sertão brasileiro, "daqui a alguns anos". O vilarejo é atingido por fenômenos estranhos. Desaparece do mapa, os celulares param de funcionar e os moradores se veem isolados. Misteriosos assassinos - que se revelam americanos contratados pelas autoridades locais - surgem com a missão de eliminar a população, decidida, porém, a não se entregar.
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Há três anos, em Cannes, o cineasta protagonizou ao lado do elenco de Aquarius um protesto no tapete vermelho para denunciar "um golpe de Estado" contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Desta vez, "não terá protesto" contra o presidente Jair Bolsonaro, "o filme é suficiente", segundo explicou Mendonça em entrevista à AFP, ressaltando que este trabalho, cujo roteiro começou a ser escrito há dez anos, foi pego pelo caminho pela realidade. "Quando escrevemos o filme, Trump não passava de uma piada.
A poção mágica do Astérix
Kleber Mendonça Filho diz nutrir "uma espécie de utopia: quando as pessoas se unem, é melhor". "No Brasil, neste momento, devemos realmente nos unir para resistir a certas coisas loucas que estão acontecendo" com o novo presidente. A cidade do Rio de Janeiro, "por exemplo, agora vive um momento deprimente, a nível municipal, estadual e federal. As pessoas estão se mudando para Recife (sua cidade natal) como se fossem refugiados e os estamos acolhendo, porque de alguma maneira continuamos protegidos cultural e politicamente". "Penso que 'Bacurau' é um pouco como isso", ressalta.
Apesar disso, os diretores se deixam levar atrás da câmara pelos caminhos da imaginação. Convertidos em resistentes, os habitantes de Bacurau contra-atacam a sangue frio graças a uma potente droga que os impede de sentir medo para ser tão sanguinários como seus agressores. "É como a poção mágica do Astérix!", disse Dornelles.
Filmado com lentes anamórficas usadas no cinema americano dos anos 1970, o filme é nutrido por muitas referências, especialmente americanas, desde o cinema de Sam Peckinpah até o de John Carpenter, passando por John Boorman e Brian de Palma, com uma violência estilizada, gráfica. "Eu acho que a violência vem da história", afirmou Kleber Mendonça Filho, que diz "não ter medo" de falar sobre o Brasil em seus filmes.
"Para nós, é muito fácil fazer filmes políticos", afirmou. No sentido contrário, "quando assisto uma comédia romântica ou mesmo um filme de ação em cinemas comerciais, penso que deve ter sido muito trabalhoso fazer esse filme completamente apolítico!"
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