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“Foi muito natural. O Gabriel Martins, no lançamento do Temporada, em São Paulo, lembrou um ponto importante: tudo isso partiu do desejo de escutar e dar rosto a pessoas que nunca tinha sido ouvidas nem mostradas. Fizemos isso sem nenhum panfletarismo. Era um desejo legítimo e natural nosso. Entendíamos esse processo bem menos do que hoje, mas queríamos fazer”, argumenta Maurilio Martins, que conheceu Gabriel no curso de cinema da UNA, poucos anos antes de montarem a produtora. Este, por sua vez, conhecia André da Escola Livre de Cinema. Além da sétima arte, também tinham em comum a origem no município vizinho de BH.
“Sou do Bairro Laguna e o Gabriel, do Milanez. O André era do outro lado da cidade, mas sempre brincávamos que éramos os três de Contagem, cruzeirenses e cinéfilos, além de outras características que nos uniram”, conta Maurílio. Pouco tempo depois, o trio ganhou a companhia de Thiago Macêdo na sociedade.
No começo, os próprios cineastas participavam e incluíam pessoas próximas nas filmagens. “Desde o início, já existia esse desejo de ouvir pessoas próximas, esses rostos que queríamos mostrar. Desde quando comecei a filmar, sempre chamei amigos. Eles (Gabriel e André), mesma coisa. Quando nos juntamos para produzir, isso ficou mais forte. No Filme de sábado, dirigido pelo Gabriel, atuei. Depois, o André fez o Fantasmas, e chamou eu e o Gabriel. Isso está na gênese da produtora e até hoje os filmes mesclam familiares, pessoas próximas e vizinhos com atores profissionais”, argumenta o diretor.
Reconhecimento Tão logo as realizações da Filmes de Plástico foram acontecendo, o reconhecimento veio junto. Ainda em 2009, Filme de sábado participou do Festival Brasileiro de Cinema Universitário, no Rio de Janeiro, e recebeu o prêmio de Pesquisa de Linguagem. “Foi o primeiro contato nosso com essa validação. Era muito fã do Eduardo Valente (cineasta), que publicou um artigo elogiando o filme. Foi como se fosse nosso primeiro troféu. Não é que isso molde seu trabalho, mas ajuda. Balizou no sentido de saber que estávamos no caminho certo”, relembra Maurilio.
A realização seguinte assinada pela Filmes de Plástico teve um reconhecimento ainda maior. O curta Fantasmas foi selecionado para a Mostra de Tiradentes, em 2010, e outros festivais fora do Brasil. Na sequência, Contagem, curta-metragem realizado como projeto de conclusão de curso por Gabriel e Maurilio Martins, esteve no Festival Brasília e recebeu o prêmio de melhor direção na mostra competitiva de curtas. “Além do prêmio, houve uma postagem do Carlos Reichenbach (1945-2012) elogiando o filme, que nos marcou muito”, relata Maurilio.
“Essas validações, através de premiações e críticas, nos ajudaram muito. Principalmente para sermos ainda mais soltos e livres. Quanto mais validação, mais entendíamos o que queríamos”, destaca o cineasta mineiro. A trilha de sucesso da Filmes de Plástico seguiu para grandes eventos cinematográficos, como o festival de Cannes, com os curtas Pouco mais de um mês (André Novais de Oliveira, 2013), Quintal (André Novais de Oliveira, 2015) e Nada (Gabriel Martins, 2017), exibidos na Quinzena dos Realizadores. O longa Temporada esteve em Locarno, na Suíça. Ela volta na quinta, docudrama de André Novais de Oliveira, além de ter sido premiado em Brasília, em 2014, e outros festivais nacionais, foi exibido no International Film Festival Rotterdam, assim como o longa No coração do mundo, dirigido por Maurilio e Gabriel, incluído na edição deste ano do festival holandês. O filme deve ser lançado em agosto no Brasil.
Mesmo com a trajetória de reconhecimento nacional e internacional, os idealizadores da Filme de Plástico lembram que viabilizar as realizações nunca foi fácil. Segundo Maurilio, as políticas públicas de financiamento ao audiovisual foram fundamentais. “Ainda que nossos filmes tenham orçamentos mais reduzidos, de cunho pessoal, boa parte da nossa produção foi viabilizada por fundos públicos, através de editais como o Filme em Minas e o BDMG Cultural, para curtas”, aponta o cineasta. Ele lembra que à medida que a produtora foi se estruturando, também teve acesso a editais nacionais, promovidos pelo recém-desmontado Ministério da Cultura. Diante disso, o realizador se preocupa com as possibilidades de reduções ou desmontes nos programas de financiamento para o setor.
“O crescimento das produções cinematográficas no Brasil só foi possível via editais de financiamento público. Interromper isso agora seria uma calamidade. Geraria um impacto em toda uma cadeia produtiva de milhares de profissionais. Surgiram muitas “Filmes de Plástico” pelo Brasil nos últimos 10 anos e elas só se estabeleceram por esse fomento público, democratizado, com acesso para fora do eixo Rio-São Paulo. O resultado disso é notório, com o Brasil voltando a ter relevância em grandes festivais internacionais. Tudo o que o senso comum falava sobre a qualidade técnica dos filmes brasileiros, hoje não devemos nada para os filmes de fora, porque o fomento contínuo passou a formar melhores técnicos e profissionais”, argumenta Maurilio, lembrando que hoje no Brasil realizadores independentes têm acesso a equipamentos de filmagem utilizados em Hollywood, como a câmera Alexa Mini. Ele ainda reforça que em muitos países europeus o cinema conta com grande incentivo financeiro do governo. “Nossa diplomacia pode ser feita pelo cinema”, diz.
ESPELHO Apesar de algum receio em relação ao futuro das políticas públicas para o cinema no Brasil, o cineasta se orgulha do que foi feito nos últimos 10 anos, por um legado que considera mais importante que as premiações. “Poderia falar da felicidade de estar nos grandes festivais, prêmios, etc., mas o mais importante nesses 10 anos é ver o quanto significamos para pessoas parecidas com a gente em outros lugares do Brasil. Esse espelhamento que a produtora provoca e esse encorajamento em perfis parecidos, outras pessoas periféricas, rejeitadas, à margem, e que antes não tinham perspectiva passaram a ter vendo nossos filmes e se encorajando. Eu me emociono quando recebo mensagens de gente que diz que resolveu fazer cinema por nossa causa. No meu bairro, tenho um vizinho que passou a trabalhar conosco e já está escrevendo os próprios roteiros para começar a filmar. Esse é o nosso norte”, define Maurilio Martins. (PE)
PRODUÇÕES DA FILME DE PLÁSTICO
» Curtas:
» Filme de sábado (2009). Direção de Gabriel Martins
» No final do mundo (2009). Direção de Gabriel Martins
» Gabriel Shaolin Mordock (2009). Direção de Gabriel Martins
» Pelos de Cachorro (2009). Direção de Gabriel Martins e Maurilio Martins
» Fantasmas (2010). Direção de André Novais Oliveira
» Contagem (2010). Direção de Gabriel Martins e Maurilio Martins
» Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides (2011). Direção de Gabriel Martins
» Domingo (2011). Direção de André Novais Oliveira
» Pouco mais de um mês (2013). Direção de André Novais Oliveira
» Quinze (2014). Direção de Maurilio Martins
» Mundo Incrível REMIX (2014). Direção de Gabriel Martins
» Quintal (2015). Direção de André Novais Oliveira
» Rapsódia para o homem negro (2015). Direção de Gabriel Martins
» Constelações (2016). Direção de Maurilio Martins
» Nada (2017). Direção de Gabriel Martins
» Longas:
» Ela volta na quinta (2014). Direção de André Novais Oliveira
» No coração do mundo (2019). Direção de Gabriel Martins e Maurilio Martins
» Longas em processo de finalização:
» Marte Um (2020). Direção de Gabriel Martins
» Co-produção de longa:
» Baronesa (2017). Direção de Juliana Antunes