
Três anos após pisar no tapete vermelho em Cannes com um filme de Kleber Mendonça Filho, a atriz mineira Bárbara Colen volta ao festival de cinema francês com mais um longa do diretor pernambucano. Se em Aquarius ela interpretou a protagonista Clara quando jovem – o filme tem uma passagem de tempo e Sonia Braga assume o papel na segunda fase –, agora Bárbara vive Teresa em Bacurau, que compete pela Palma de ouro.

“Por mais que houvesse rumores de que Bacurau estaria na lista (da competição oficial em Cannes), a gente fica na expectativa. E, quando confirmou, foi uma alegria só. É muito forte poder voltar lá com um filme do Kleber. É mais significativo ainda”, diz a atriz.
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“As coisas pioraram demais para o Brasil depois daquilo. Isso sem mencionar o processo de perseguição que Kleber passou a sofrer. Passaram a esmiuçar a vida dele, achar coisas que não existem. Aquarius era a grande aposta naquele momento para o Oscar, e acabou sendo preterido, lamentavelmente”, diz a atriz. Pequeno segredo, de David Schürmann, foi o candidato apresentado pelo Ministério da Cultura (MinC) à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
A perseguição a que Bárbara se refere diz respeito à prestação de contas de O som ao redor (2012), o primeiro longa de ficção do diretor pernambucano. A Secretaria Especial da Cultura, órgão que substituiu o MinC, aponta que houve irregularidade na utilização de recursos incentivados – o orçamento do filme teria ultrapassado o teto permitido – e pede a devolução de R$ 2,2 milhões aos cofres públicos. O diretor recorreu duas vezes, mas não teve seus recursos acatado.
“É tudo muito surreal, mas voltar a disputar Cannes é superimportante para o cinema nacional. Ainda mais neste momento de desmonte total que estamos atravessando na cultura. Mostra que estamos no caminho certo, estamos colhendo frutos de um trabalho. É um alento e um sinal de esperança”, afirma Bárbara.

Bacurau, cujo nome se refere a um pássaro de hábitos noturnos, tem roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e mistura os gêneros western, aventura e ficção científica, segundo a produção. Na sinopse divulgada, Bacurau é um pequeno povoado do sertão brasileiro que se despede de Dona Carmelita, mulher forte e querida, falecida aos 94 anos. Dias depois, os moradores do lugarejo percebem que a comunidade não consta mais nos mapas.
Bárbara Colen afirma que foi uma decorrência natural voltar a trabalhar com Kleber Mendonça e que outras pessoas de Aquarius também estão no novo projeto. “Eu tinha ficado muito próxima, inclusive do Juliano, que, em Aquarius foi o diretor de arte e agora é codiretor e roteirista. Mas desta vez, ao contrário do que aconteceu com a Clara, papel para o qual fiz testes, eu fui convidada”, conta.
VOLTA
Segundo a atriz conta, Teresa é muito parecida com ela, mas não dá detalhes da personalidade de sua personagem. Ela é uma mulher nascida no fictício povoado, mas que não mora lá. Quando retorna, muitos anos depois de ter emigrado, os acontecimentos se precipitam. “Esse retorno coincide com o período em que dona Carmelita morre e é aí que a história se desenrola. O interessante é que esse é um filme coletivo, de atores, não tem um protagonista muito claro”, comenta.
O elenco conta ainda como Karine Teles (Benzinho), Silvero Pereira (BR-trans), Antonio Saboia (O mecanismo), o ator alemão Udo Kier (Pequena grande vida) e Sonia Braga novamente. Bárbara Colen comemora o fato de que, desta vez, pôde contracenar com a eterna Gabriela, já que, em Aquarius, as duas interpretaram o mesmo papel. “Foi muito intenso o processo de preparação, porque ficamos muito juntos nesse período de imersão em Recife e no sertão nordestino. Foi maravilhoso ter esse contato novamente com a Sonia.”

O longa foi rodado no Sertão do Seridó, divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, no ano passado. As locações foram encontradas depois de a equipe percorrer mais de 10 mil quilômetros em Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. As filmagens duraram dois meses e três dias, com uma equipe de 150 pessoas. As cidades de Parelhas (RN) e Acari (RN) serviram de base para a produção.
Bárbara é natural de Belo Horizonte, mas morou durante três anos em Barcelona. Quando atuou em Aquarius, ela ainda vivia na Espanha. Há um ano, a atriz voltou a morar na capital mineira. “Amo BH e foi importante voltar até para aproveitar melhor as oportunidades. Aqui é a minha base e fica mais fácil me deslocar. Muitos projetos estão acontecendo não só no cinema, mas também no teatro e na TV.”
A atriz protagonizou o especial de fim de ano da Globo Minas Dia de reis e tem mais uma produção global em andamento, a série Onde está meu coração, de George Moura e Sergio Goldemberg, dupla responsável por trabalhos como Onde nascem os fortes, O canto da sereia e O rebu. A atração ainda não tem previsão de estreia. No cinema, Bárbara Colen esteve nos filmes Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta, e No coração do mundo, de Gabriel Martins e Maurílio Martins. Ela acaba de finalizar sua participação em Breve miragem de sol, dirigido por Eryk Rocha e protagonizado por Fabrício Boliveira. “Os trabalhos estão ficando mais intensos, mas está bacana”, afirma.