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Crise migratória é tema de dois filmes em cartaz na capital mineira

Independentemente do local no planeta, refugiados podem até chegar a um novo país apenas com a roupa do corpo. Porém, a bagagem imaginária que carregam é repleta de vontade de sobreviver e de lembranças daqueles que perderam. Com esse olhar, a diretora e roteirista brasileira Beatriz Seigner lança 'Los silencios', seu segundo longa-metragem. Depois de estrear na Quinzena dos Realizadores de Cannes, no ano passado, ele chega agora às salas de BH.

“A grande pergunta do filme é: como continuar vivendo depois de perder um filho?”, afirma Seigner, que dedicou sete anos a pesquisas na região fronteiriça da Colômbia, Peru e Brasil para criar o roteiro. A trama é protagonizada pela colombiana Amparo (Marleyda Soto), que se muda para aquela área com o que sobrou da família. Adão (Enrique Diaz), marido dela, está desaparecido devido ao conflito entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com o Exército e grupos paramilitares.

A história tem dimensão fantástica: os mortos estão presentes – não como assombrações, mas para ressaltar o não esquecimento. “Vivemos essa ideia de coexistência na América Latina. Nossa ascendência indígena e africana nos dá familiaridade com búzios, espíritos.
Mostramos isso de maneira visual, com cores e pessoas que partiram no contexto em que elas interferem na situação política”, explica a diretora. Numa cena, os “fantasmas” – pessoas normais – até se reúnem em assembleia.

Beatriz Seigner diz que seu filme tem emocionado pessoas em vários países. Em Cannes, na França, uma refugiada da Guerra da Bósnia revelou-lhe sentimentos similares àqueles explorados no filme. “Tocamos num lugar universal sobre o que é preciso fazer para ter paz e honrar nossos mortos”, diz a diretora.

Ao fugir do conflito e procurar um novo lar para os filhos, Amparo se depara com dificuldades que independem da região onde refugiados se abrigam. Isso inclui burocracias que impedem o cidadão de se estabelecer em novo país, preconceito, hostilidade às crianças na escola e falta de trabalho.

Amparo enfrenta tudo isso com “muita dignidade”, destaca Beatriz. “A mesa, mesmo com pouco, está posta. As poucas roupas estão sempre limpas, assim como o uniforme das crianças.
É como vejo a situação dessas pessoas que lutam por uma vida digna e um futuro melhor.”

Além de abordar crises migratórias ocasionadas por conflitos, o filme apresenta um recorte específico sobre a tensão na América do Sul. “É muito importante entender esse contexto. Na Colômbia, o tratado de paz envolvendo as Farc (selado em 2016) foi um marco histórico. Quando escrevi o roteiro, ele estava acontecendo. Foi muito rico me aprofundar nele para contar essa história universal sobre a mãe que perde seus familiares”, destaca. O longa é falado em espanhol.

DOCUMENTÁRIO

As migrações são tema de outro filme em cartaz nesta quinta-feira (11), no Sesc Palladium. O documentário Bienvenue au réfugistan aborda a realidade de milhares de refugiados ao redor do mundo. Gravado no Quênia, Tanzânia, Jordânia, fronteira da Grécia com a Macedônia e nas instalações francesas, inglesas e suíças do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, ele mostra a realidade das redes de confinamento, com abrigos superlotados e condições sanitárias complicadas.

A diretora e jornalista francesa Anne Poiret investiga o sistema de organizações não governamentais que gerem os espaços que confinam “indesejados” por países ricos.
A sessão está marcada para as 20h, com entrada franca, e contará com a presença de Poiret. O Sesc fica na Avenida Augusto de Lima, 420, Centro..