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Natalie Portman dá uma sonora risada do outro lado da linha quando o repórter lhe pergunta se, às vezes, não tem a impressão de que sua infância foi roubada? A questão tem tudo a ver com o fato de sua personagem em Vox Lux - O Preço da Fama ser essa garota de 13 anos catapultada precocemente para o sucesso e que, agora, mãe, tenta o retorno. Natalie conseguiu ter uma infância, digamos, normal? Com aquela sua voz inconfundível, ela diz - "Se você conseguir definir normalidade e me disser quem é normal talvez eu consiga responder", prossegue, rindo.
"Exatamente. Existem grandes diretores que fizeram grandes filmes sobre a banalidade das pessoas comuns, mas acho que não tenho physique du rôle nem temperamento para esses papéis. Minhas personagens tendem a ser complexas, atormentadas. Celeste é." E, como é, para uma 'celebridade', interpretar outra?
"Celeste, quando entro em cena, é uma 'has been', já foi. É interessante criar personagens assim, porque ela já teve outra imagem, e creio que isso esclarece o ponto de Brady (o diretor Brady Corbet), que queria que Raffey e eu fôssemos diferentes. Mas eu não diria que sou exatamente uma celebridade. Faço parte desse universo de glamour do cinema, tenho feito personagens fortes, mas, pessoalmente, sou discreta e gosto de preservar minha privacidade."
Na trilha, as canções são de Sia, que também tem um cargo de produção executiva. "É uma artista muito forte", define Natalie. Sia, como é conhecida Sia Kate Isobelle Furler, tornou-se um fenômeno e hoje é reputada como a única artista a ter cinco clipes com mais de 1 bilhão de visualizações cada um. Cantora, compositora, diretora e produtora musical, ainda era jovem quando, em 1997, seu namorado morreu num acidente de carro.
Celeste inspira-se em personagens reais? Muito tem se falado sobre isso, sendo citadas Katy Perry e Lady Gaga.
"Não trabalhei com referências tão precisas", esclarece Natalie. O repórter aproveita a oportunidade para lembrar sua Jacqueline Kennedy. É outra personagem que se expressa muito pelo figurino. Todos aqueles elegantes conjuntos que marcaram a era de Camelot. "Pablo (Larraín) foi muito cuidadoso nos detalhes. E é uma personagem que está no imaginário coletivo. A batalha de Jackie para preservar o legado do marido (o presidente John F.
Luc Besson, Pablo Larraín, um francês, outro chileno. São estrangeiros em Hollywood. Isso faz muita diferença?
"Pode parecer clichê, mas o cinema é um país próprio. Se o diretor sabe o que quer consegue comandar sua equipe em qualquer lugar." Sua relação mudou com os diretores, depois que ela mesma dirigiu? "Tenho um outro olhar, claro, e às vezes imagino como dirigiria certas cenas. Como atriz, tenho de respeitar o ponto de vista do meu diretor, mas opino, e eles me ouvem. Por mais autoral que seja o filme, na feitura é uma experiência fortemente coletiva."
Natalie, nascida em Jerusalém, em 9 de junho de 1981 - tem 37 anos -, dirigiu em 2015 Uma História de Amor e Sombras, adaptado da obra do escritor israelense Amos Oz. "Amos era formidável. Tinha plena consciência de suas convicções e lutava por elas. Foi um dos fundadores do movimento pacifista Shalom Akhshav e defendia a Solução de Dois Estados, o que é um tema polêmico em Israel. Não escolhi filmar a história dele por acaso. Sou muito contra Benjamin Netanyahu, sempre fui e serei", afirma.
Como ela avalia sua experiência de diretora?
"Creio que tinha meus pontos fracos, mas se fosse fazer outro filme agora - e tenho planos de voltar a dirigir -, sinto que teria mais segurança."
Em 2010, durante as filmagens de O Cisne Negro, conheceu o bailarino e coreógrafo francês Benjamin Millepied, com quem se casou em 2012.
"Ele criou a coreografia, que é muito mais uma movimentação cênica em Vox Lux."
Juntos têm os filhos Amalia e Aleph. É uma homenagem a Jorge Luis Borges?
"É a primeira letra dos alfabetos dos idiomas semíticos, o que inclui o hebraico, o aramaico, o ciríaco e o árabe. Corresponde ao alpha.".