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“O desajustado usa aquela coisa pela qual é julgado para fazer algo positivo”, comenta Burton. No caso de Dumbo, são as orelhas gigantes.
Nesta nova versão, os animais não falam – Dumbo também não tinha diálogos no filme original, lançado em 1941. Os personagens humanos têm papel mais relevante, ao contrário da animação, na qual ficaram em segundo plano e eram quase vilões.
Diferentemente do remake de A Bela e a Fera, quase cópia do desenho animado, Dumbo é bastante diferente do primeiro filme. “Eu me senti liberado, porque não tinha de seguir a trama original”, afirma Burton. “Não é realmente uma história, e sim uma fábula muito simples.”
Porém, o novo filme conserva vários aspectos do original, como a cena comovente embalada pela canção Baby mine, quando Dumbo visita a mãe enjaulada.
GUERRA No Dumbo de Tim Burton, o pequeno elefante, nascido no circo de Max Medici (Danny DeVito), é colocado sob responsabilidade da família de Holt Farrier (Colin Farrell), veterano da Primeira Guerra Mundial. Durante os combates, ele ficou viúvo, perdeu um braço e seu número no circo. Entre suas frustrações, Farrier não consegue estabelecer uma ligação com os filhos, responsáveis por descobrir o que o elefantinho é capaz de fazer.
Filmada em estúdios gigantescos nas imediações de Londres, a produção enfrentou um desafio: o protagonista jamais pisou no set. O elefantinho foi criado por computador. “Tínhamos um animal de pelúcia. E tínhamos um cara, o Ed (Osmond), que aprendeu os movimentos de elefante, usando um traje especial”, conta o diretor.
Burton nunca foi fã de circo, mas sempre curtiu o romantismo em torno do picadeiro. “Gosto da ideia de que o circo reúne pessoas de todo o mundo que não se encaixam na sociedade, é uma família de esquisitos”, comenta.
Tim Burton volta a trabalhar com DeVito e Michael Keaton, parceiros dele em Batman – O retorno (1992). Keaton interpreta o vilão V. A. Vandevere, dono de um parque de diversões futurista que se associa a Medici (DeVito) e explora Dumbo.
O primeiro trabalho de Burton foi nos estúdios Disney, mas durou pouco. “Não tinha paciência para ser animador”, revela, sem esconder um sorriso antes de fazer piada, afirmando que foi contratado e demitido pelo estúdio mais vezes do que consegue se lembrar.
MORTE Burton resgata nos clássicos Disney – mais edulcorados do que suas criações – a abordagem de temas difíceis, como a morte e a separação familiar, considerados tabu nestes nossos tempos. O diretor cita uma exibição de Pinóquio (1940) com “crianças chorando e pais gritando”. E questiona: “O que mudou? O mundo está pior, mas as pessoas são mais protetoras, não sei...”
Duas vezes indicado ao Oscar (pelas animações A Noiva Cadáver e Frankenweenie), o norte-americano afirma que não perde o sono com o prêmio. “Sou sortudo apenas por poder filmar. De fato, saio do caminho de fazer filmes para vencer o Oscar, porque esse processo é muito exaustivo”, garante.