O resgate da participação das mulheres no cinema reposiciona a história da sétima arte, que, muitas vezes, foi contada a partir da perspectiva de realizadores homens em detrimento da contribuição efetiva delas. Para dar visibilidade às mulheres que tiveram papel fundamental no desenvolvimento da linguagem cinematográfica, foi criado, há quase três anos, o Cineclube Aranha, proposto por seis mulheres que se dedicam à produção audiovisual – as curadoras, pesquisadoras e produtoras cinematográficas Mariah Soares, Juliana Antunes, Marcela Santos, Gabriela Albuquerque, Camila Bahia Braga e Giselle Ferreira.
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O público do cineclube é majoritariamente feminino, mas as curadoras lembram que os homens também são bem-vindos. A proposta é valorizar a produção de mulheres, ampliar público e abrir espaço de debate em que elas se sintam confortáveis em opinar. “O nome do cineclube, Aranha, é uma ode aos nossos corpos. Uma forma de desmistificar o nojo que se tem pelos corpos femininos”, afirma Mariah.
O cineclube também contribui para a criação de uma rede de mulheres, que compartilham a percepção sobre os filmes, mas também abre espaço para que uma mulher indique outra em projetos de audiovisual. “O Cineclube Aranha partiu do desejo de potencializar a cinefilia entre as mulheres. O cinema, como outros espaços da sociedade, é espaço de privilégio masculino, branco e de uma única classe social. Nos debates sobre filmes, a maioria das falas é de homens, mesmo quando não têm um pensamento elaborado. No Cineclube Aranha, a maioria é mulher falando. Queríamos criar espaço seguro para que nós mulheres pudéssemos construir esse pensamento crítico”, afirma a produtora Camila Braga.
Para Mariah, o campo do audiovisual, que por muitos anos se caracterizou por ser espaço predominantemente masculino, tem mudado bastante com a entrada de mulheres realizadoras. “O Cineclube Aranha foi criado por seis mulheres da área do audiovisual para formação da cinefilia na perspectiva feminina. Queríamos um espaço de crítica cinematográfica que fosse confortável para mulheres e escolhemos no molde cineclubista de formação de público”, afirma a curadora.
“Cada mês uma mulher faz a curadoria. E sempre temos apreço pela política, direitos civis, direitos das mulheres (temas recorrentes)”, acrescenta Mariah. As curadoras também se preocupam em promover a acessibilidade com sessões em libras e audiodescrição.
PIONEIRA Em 2015, o Museu Nacional de História e Cultura Afro-americana, sediado em Washington (EUA), reconheceu o valor de Madeline Anderson para a história daquele país. Ela foi a primeira mulher negra a produzir e dirigir um documentário televisivo. Também foi pioneira na produção e direção de uma série de TV, além de ter sido a primeira mulher negra a ser contratada pela TV pública de Nova York, a WNET.
O documentário Relatório de integração 1 narra os acontecimentos que levaram à primeira tentativa de passeata na capital americana pelos direitos civis na década de 1960. Já Eu sou alguém conta a história de 400 mulheres afro-americanas trabalhadoras em hospitais de Charleston e da Carolina do Sul, que entraram em greve, em 1969, exigindo pagamento justo e sindicalização.
As sessões são realizadas no MIS Santa Tereza toda segunda terça-feira do mês, às 19h30. Para atender a mulheres que são mães, e por isso têm tempo reduzido para as atividades de lazer, o Cineclube Aranha estabeleceu parceria com o Cine Humberto Mauro para exibição das sessões no segundo sábado do mês, às 10h. Ainda serão realizadas sessões itinerantes em quatro centros culturais da cidade, mas a programação ainda não foi definida.
Sessões de películas consagradas
O cineclubismo, além de permitir a formação de público, democratiza e amplia o acesso à história do cinema. Filmes clássicos serão apresentados na programação do CineCentro, no Centro Cultural da UFMG, até 28 de março. Para este mês, foram selecionados cinco filmes de diferentes gêneros cinematográficos: musical, romance, ação, drama e faroeste.
O primeiro longa a ser exibido será o musical Calouros da Broadway, com direção de Busby Berkeley. A produção conta a história de Tommy (Mickey Rooney) e Penny (Judy Garland). Artistas desempregados, eles são descobertos por um produtor para estrelar um musical, que pode ser a chance de suas vidas. Já o romance O maior espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille, conta a história do famoso trapezista Sebastian (Cornel Wilde) para garantir os lucros de seu circo, criando um conflito com sua namorada, a trapezista Holly (Betty Hutton).
Em Bonnie e Clyde, o diretor Arthur Penn une romance e violência ao registrar a trajetória verídica de Bonnie (Faye Dunaway) e Clyde (Warren Beatty), célebre casal de assaltantes de banco que cruzou os Estados Unidos nos anos 1930 praticando crimes. Outro clássico é o drama Volver, de Pedro Almodóvar, que conta a história de Raimunda (Penélope Cruz), uma mulher que trabalha como faxineira no aeroporto de Madri para sustentar o marido desempregado e a filha adolescente. A programação tem até o faroeste O estranho sem nome, estrelado por Clint Eastwood. (MMC)
Projeto CineCentro/CineClássico
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Calouros da Broadway (EUA, 1941)
>> 19/3
O maior espetáculo da Terra (EUA, 1952)
>> 21/3
Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas (EUA, 1967)
>> 26/3
Volver (Espanha, 2006)
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O estranho sem nome (EUA, 1973)
Terças e quintas-feiras, às 19h, no Auditório do Centro Cultural da UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro). Entrada Franca.
Informações: (31) 3409-8280
Sessão Dose dupla de Madeline Anderson
Relatório de integração 1 (Integration report 1, EUA, 1960)
Eu sou alguém (I am somebody, EUA, 1970)
Terça-feira (12), às 19h30. MIS Santa Tereza. Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza. Entrada gratuita. Informações:
cineclubearanha@gmail.com