Quando eu era pequeno, meu pai me falou que o grande problema do mundo era o medo. Ele disse que o medo tinha virado contagioso, como se fosse uma doença. Essa é a história de como o medo contaminou o mundo inteiro.” É assim que Tito, um menino tímido de 10 anos, abre a narrativa de Tito e os pássaros, de André Catoto Dias, Gabriel Bitar e Gustavo Steinberg, em cartaz em Belo Horizonte (BH 10, 17h, 18h50). O longa de animação ficou entre os nove pré-selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para a disputa do Oscar nessa categoria, mas acabou não sendo incluído entre os cinco finalistas.
Desde que o projeto surgiu há oito anos, Gustavo Steinberg, que assina sua primeira no formato de animação, pretendia desenvolver um trabalho para que as crianças refletissem sobre o medo. Ele conta que, quando convidou o roteirista e diretor Eduardo Benaim, já vislumbrava algo que dialogasse com o público infantil em vários aspectos. “A animação fazia mais sentido, mas não é um longa voltado apenas para a garotada. O intuito é justamente abrir um diálogo entre crianças e adultos. A cultura do medo está presente desde os primórdios da humanidade. Era um dos temas mais em voga quando o projeto surgiu e continua sendo um assunto central em várias culturas, não só no Brasil como no mundo todo”, afirma.
Na trama de 73 minutos, Tito vive apenas com a mãe, desde que o pai saiu de casa. De repente, uma estranha epidemia começa a se espalhar, fazendo com que pessoas fiquem doentes quando se assustam. Tito rapidamente descobre que a cura está relacionada à pesquisa feita pelo pai sobre o canto dos pássaros. Ele embarca numa jornada com seus amigos para salvar o mundo dessa nova doença. A busca do menino pelo antídoto é também uma jornada para encontrar seu pai ausente e sua própria identidade.
ESTRATÉGIA Steinberg afirma que um dos principais desafios era abordar a temática do medo mas sem infantilizá-la. E para isso lançou mão de algumas táticas no roteiro, na estética do filme e na trilha sonora, assinada por Ruben Feffer e Gustavo Kurlat, da Ultrassom Music Ideas, estúdio responsável pelas canções de O menino e o mundo, de Alê Abreu. “Falar sobre o medo com crianças não é falar do bicho papão. A gente tinha que utilizar algumas estratégias para trazer esse medo para dentro do filme. Seja a trilha que trouxe uma densidade, um certo peso ou a estética que bebeu bastante no expressionismo”, explica.
Tito e os pássaros tem colecionado prêmios dentro e fora do Brasil. No ano passado, foi eleito a melhor animação em festivais como o de Chicago e o de Havana. No Brasil, foi exibido pela primeira vez no Anima Mundi, em julho passado, e recebeu o prêmio de melhor longa infanti”. Além da pré-indicação ao Oscar, foi lembrado também no Annie Awards, na categoria melhor animação independente.
“Quando a gente faz um projeto, sempre espera que ele seja bem-sucedido, mas está sendo bem mais surpreendente, sobretudo, em nível internacional. Tito e os pássaros vem na esteira da construção e do reconhecimento da animação brasileira pelo mundo. Tivemos Uma história de amor e fúria (Luiz Bolognesi) e depois O menino e o mundo. Isso demonstra que não é apenas sorte”, afirma Steinbert.
O filme tem um time de peso fazendo as vozes dos personagens – Denise Fraga, Mateus Solano, Matheus Nachtergaele, Otávio Augusto e o talentoso Pedro Henrique, ator mirim que dubla o protagonista. Tito e os pássaros também deu origem a um jogo infantil on-line gratuito. O game, como explica o diretor, “centra mais nos aspectos das redes sociais, aborda temas como as fake news, os haters que estão tentando contaminar o nosso mundo. De certa forma, isso também está presente no filme, mas o jogo é uma forma de o público interagir com os personagens, aproximá-los mais da história e de uma maneira lúdica. Nosso projeto tem um pé muito forte na realidade, mas é, ao mesmo tempo, uma aventura.” O game pode ser acessado no site titoeospassaros.com.br/game.