saiba mais
'Divino amor' mostra como os evangélicos poderão dominar o Brasil
'Boy erased' é a não estreia mais comentada do cinema
Gina Rodriguez quer virar o jogo em favor dos latinos em Hollywood
'Vice' mostra como se constrói a carreira de um político abominável
Peter Jackson vai fazer documentário sobre 'Let it be', dos Beatles
Lui brinca que o projeto do longa teve início quando ele ainda era garoto e acompanhava o pai, o cineasta Roberto Farias (1932-2018), nas filmagens da trilogia sobre o Rei, no fim dos anos 1960. Roberto Carlos em ritmo de aventura, Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora. “Eu era menino e me lembro de ver aquelas figuras (Roberto, Erasmo e Wandeca) tão carismáticas, jovens felizes, rindo uns dos outros. Aquilo tudo era contagiante e me marcou muito”, diz.
Ao longo da vida, ele foi esbarrando em Erasmo Carlos, sobretudo em eventos ligados à música, já que Lui Farias é casado com a cantora Paula Toller. Em um almoço promovido pelo produtor musical André Midani, o Tremendão começou a relembrar sua trajetória. Lui ficou tão fascinado que se candidatou a fazer um filme sobre sua vida. “Ele nem tinha lançado a autobiografia ainda. Mas eu me empolguei tanto que disse que queria fazer um filme sobre ele. As coisas foram encaminhando e aí tudo deu certo. Mas Minha fama de mau só foi rolar muito tempo depois daquele encontro”, lembra.
BANDA O ator Chay Suede, de 26 anos, que interpreta Erasmo, começou sua carreira exibindo seus dotes de cantor no reality Ídolos e, em seguida, na versão brasileira da telenovela Rebelde. Em Minha fama de mau ele canta nove músicas. Seus colegas de elenco Gabriel Leone e Malu Rodrigues também soltam a voz na música-título, uma das parcerias da dupla Roberto & Erasmo. A trilha da cinebiografia foi lançada nas plataformas digitais nesta semana pela Universal Music com 17 faixas.
A banda que acompanha Chay, Gabriel e Malu na cinebiografia é a atual de Erasmo Carlos, formada pelo maestro José Lourenço (arranjos, órgão Hammond, pianos, harmônica e flauta), Rike Frainer (bateria), Billy Brandão (guitarras, violão e cítara), Pedro Dias (baixo e vocais), Luiz Lopez (violão, voz guia e vocais) e Dirceu Leite (saxes e flautas).
A produção musical é de Max Pierre, que incluiu na trilha sobretudo os sucessos da Jovem Guarda, como Festa de arromba, Eu sou terrível, É proibido fumar, Prova de fogo, Vem quente que estou fervendo e Gatinha manhosa. Lui Farias frisa que a escolha do protagonista não poderia ter sido mais apropriada. Apesar de o ator não ser parecido fisicamente com Erasmo, o diretor acredita que Chay Suede conseguiu trazer a essência e a energia do Tremendão para a telona. “Lembro-me de que eu estava já escolhendo o elenco quando me deparei com uma foto do Chay ao lado do Erasmo Carlos, num evento do qual eles tinham participado. Já fui atrás para ele fazer um teste. Quando o encontrei, fiquei impressionado em como ele sabia e gostava do Erasmo. Era para ser o Chay.”
Segundo o cineasta, rodar um longa sobre um ídolo vivo, na ativa e no imaginário de boa parte dos brasileiros foi um grande desafio. Mas ele afirma que, no decorrer do processo, foi percebendo que o grande personagem era a música. “Queria que Minha fama de mau tivesse o temperamento do Erasmo e procurei retratar isso nos mínimos detalhes. Tem o cara família, carinhoso, amoroso, mas o roqueiro, o que se metia em algumas enrascadas. Mas, sobretudo, queria a música muito presente. Por isso o filme traz tantas canções e todas na íntegra. Não tive coragem de cortá-las”, conta.
Erasmo não chegou a dar palpites na produção, segundo Lui, e só quis ver o filme depois de finalizado. “Cheguei a sugerir que ele próprio narrasse o filme, mas Erasmo disse que ia dar trabalho e recusou. Então utilizamos o recurso de o Chay contar a história, como se quebrasse a quarta parede e conversasse com o espectador. No fim das contas, fizemos uma pré-estreia em São Paulo, e o Erasmo ficou muito impactado. Nós atingimos o objetivo”, afirma.
PARTICIPAÇÕES Minha fama de mau ainda traz participações especiais como a de Isabela Garcia na pele de Diva, mãe de Erasmo Carlos. Ela criou o filho sozinha. Bruno de Lucca interpreta o produtor artístico Carlos Imperial. Bianca Comparato interpreta uma personagem que condensa as mulheres mais importantes na vida do artista carioca, incluindo Nara, sua primeira esposa e mãe dos três filhos. Paula Toller estreia como atriz no papel de Candinha, famosa fofoqueira da década de 1960 que chegou a ganhar uma música do Rei.
“Eu queria contar com a Paula de alguma forma nesse projeto, e ela acabou topando fazer essa aparição. Assim como O caderninho, um dos sucessos da Jovem Guarda, Candinha também foi música. Nenhuma das duas composições toca no filme, mas elas estão representadas de outra maneira. Eu queria dar essa bordadura também”, diz Lui.
Para o diretor, seu projeto acabou sendo um tributo não só ao amigo de fé de Roberto Carlos, mas também a Roberto Farias. “Meu pai fez uma ficção daquele tempo, e eu acabei fazendo o realismo. O clima de Minha fama de mau retrata aquele sabor dos anos 1960, 1970 e por isso costumo dizer que não deixa de ser o quarto filme da trilogia do Roberto Farias. Sem contar que reflete tudo o que o Erasmo sempre pregou e venera – o amor, a amizade e a música.”
Três perguntas para...
CHAY SUEDE
ator, intérprete de Erasmo Carlos
Erasmo lhe deu sua bênção?
Encontrei-o, e ele foi muito generoso, nem um pouco impositivo. O bacana do filme, para mim, é que, além da história da amizade, conta também a história do rock no Brasil, e o Erasmo foi peça fundamental.
Nem você nem Gabriel Leone nem Malu Rodrigues se assemelham aos biografados. Foi um desafio?
Acho que foi um risco que o Lui (Farias, diretor) resolveu correr, mas para a gente foi maravilhoso. Vi tudo o que podia da época, os programas da Jovem Guarda, mas a ideia nunca foi imitar ninguém. O Lui nunca disse que eu teria de assumir os trejeitos, o comportamento, ou cantar como o Erasmo. Para todos nós, foi muito mais uma coisa de penetrar ou preservar o espírito da época, de se cercar do universo que cercava aquela garotada.
Não foi intimidante interpretar um ícone?
Mas justamente ele não era um ícone, apenas um garoto da Tijuca cheio de sonhos que estava tomando porrada da realidade. Não creio que o Erasmo fosse virar um bandido, mas, naquelas loucuras de juventude, ele estava se moldando para formar com Roberto a dupla de grandes artistas. (Agência Estado)