“Russo” é o apelido de criança que, por vezes, era grafado com spray em alguns muros. “APR” é a sigla para Artilharia Pesada da Rima, grupo de hip-hop que Flávio Paiva manteve por alguns anos. O rap acabou deixado de lado pelo grande volume de atividades executadas pelo cantor, compositor, produtor cultural, videomaker, educador e agora ator Russo APR.
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Para chegar ao atual momento de prestígio, o caminho da educação por meio da arte foi decisivo para Russo APR.
GURU “Ele foi meu guru de formação cultural e humana, uma referência.
“Meu sonho é criar uma escola transformadora, que dialogue com a diversidade, que tenha como base a periferia, com histórias de luta, de diversidade, que transforme pessoas, assim como foi comigo. Não consigo ver a escola tradicional como um meio para essas mudanças. É preciso usar mais o chão da comunidade como meio educativo, onde não só o professor ensine, mas todos os envolvidos naquele ambiente”, afirma Russo, que, assim como seu personagem no filme, conhece bem a região onde atua, especialmente a juventude local.
Nessa trajetória, a câmera também passou a fazer parte de sua rotina profissional, empregada na produção de clipes e de outros vídeos. Sua posição em relação a ela se inverteu, na verdade, a convite do amigo Maurílio Martins, diretor e produtor na Filmes de Plástico, de Contagem, da qual André Novais de Oliveira também é integrante. Dirigido por Maurílio, Russo ganhou um papel em No coração do mundo, que acabou de estrear no Festival de Roterdã. Nos ensaios, conheceu André, que encontrou nele a peça que faltava no roteiro de Temporada.
“Eu estava ensaiando, e o André estava acompanhando e ficou olhando para mim.
Sem nenhuma experiência de atuação em longas, Russo conta que precisou se afastar por 15 dias de seus outros projetos para se dedicar às filmagens. Sua principal referência para se sair bem no novo desafio foi a colega de elenco e protagonista Grace Passô, que também está em 'No coração do mundo'. “Uma atriz completa”, diz Russo, que já tem convites para atuar em outras produções locais.
PERIFERIA Como a proposta de Temporada, tal qual outras produções da Filmes de Plástico, é uma abordagem positiva da vida na periferia, Russo entende que a conexão do filme com sua trajetória foi perfeita. “Tem 20 anos que desenvolvo trabalhos nessa área. O que levo para o filme dialoga com o que fiz no audiovisual, na música e na produção cultural. O filme retrata um pouco da minha história. André me deu muita liberdade para desenvolver falas e a própria história do personagem tem essa conexão”, diz Russo.
Impedido de receber pessoalmente o prêmio em Brasília por estar se recuperando de uma cirurgia bariátrica, Russo gravou um vídeo de agradecimento à boa recepção que o filme teve em sua estreia em Brasília, da qual havia sido informado pela produção.
“A arte de periferia é rica, poderosa e empoderada. Mas, na mídia convencional, é colocada como uma negação. O jovem negro é criminalizado, tanto quanto o funk, o hip-hop. É uma realidade sempre desenhada de forma violenta e agressiva, mas, se você der um rolê na periferia, vê que não é nada disso. Os filmes que o Maurílio Martins, o Gabriel Martins e o André Novais fazem retratam o cotidiano da comunidade com histórias bonitas, de companheirismo, simplicidade, pessoas que se apaixonam. Aprendi muito com eles e é o que procuro fazer em meus projetos”, diz.
Em 2016, Russo tentou se candidatar, sem sucesso, a vereador em Ibirité, pelo PCdoB. Neste ano, ele juntará forças na proposição de pautas para a cultura, dentro da proposta de mandato coletivo chamada de Gabinetona, que inclui as vereadoras Cida Falabella e Bella Gonçalves, a deputada estadual Andreia de Jesus e a federal Áurea Carolina, todas do Psol. Ele reforça que é preciso “valorizar as bases” para fortalecer a cultura nas periferias e as lutas pelas causas identitárias.
“A gente já lutava por isso, mas agora é preciso lutar mais. A própria população está alienada. Muita gente não tem noção do que é racismo e intolerância. Quem sofre isso é tido como a minoria, mas sabemos que é a maioria, e ela começou a se unir. É um momento em que não podemos soltar a mão de ninguém e, mais do que nunca, fortalecer as nossas bases, senão vamos retroceder”, argumenta Russo Apr.
“Meu sonho é criar uma escola transformadora, que dialogue com a diversidade, que tenha como base a periferia, com histórias de luta, de diversidade, que transforme pessoas, assim como foi comigo. Não consigo ver a escola tradicional como um meio para essas mudanças. É preciso usar mais o chão da comunidade como meio educativo, onde não só o professor ensine, mas todos os envolvidos naquele ambiente”
“A arte de periferia é rica, poderosa e empoderada. Mas, na mídia convencional, é colocada como uma negação. O jovem negro é criminalizado, tanto quanto o funk, o hip-hop. É uma realidade sempre desenhada de forma violenta e agressiva, mas, se você der um rolê na periferia, vê que não é nada disso. Os filmes que o Maurílio Martins, o Gabriel Martins e o André Novais fazem retratam o cotidiano da comunidade com histórias bonitas, de companheirismo, simplicidade, pessoas que se apaixonam. Aprendi muito com eles e é o que procuro fazer em meus projetos”
>> Russo APR, ator e educador cultural