De forma muito consciente, Gaspar Noé compara o cinema à montanha-russa: "Tem gente que vai ao parque de diversões e aprecia os brinquedos mais moderados. Filmo para quem prefere emoções selvagens, a montanha-russa." Filho de pais argentinos, Gaspar Noé viveu até os 5 anos em Nova York e dos 5 aos 12 na Argentina, aí veio a ditadura, os pais (de esquerda) se exilaram e foram viver na França. Quando resolveu ser cineasta, Gaspar estagiou com "Pino" – Fernando Solanas, pai de um amigo. Em 2002, com Irreversível, ele virou o diretor que as feministas amam odiar, depois da aposentadoria de Dirty Harry, o personagem emblemático de Clint Eastwood.
Lembram-se de Irreversível? O estupro da personagem de Monica Bellucci numa passagem subterrânea, a história contada de trás para a frente? Desde então, o nome de Gaspar Noé virou sinônimo de escândalo, provocação. Pela primeira vez, ele visita o Brasil não como turista, mas como cineasta, apresentando um trabalho. O filme Clímax não foge à regra do que Noé gosta de mostrar. Um grupo de bailarinos, uma situação extrema. Sob o efeito do álcool, talvez de droga – há a suspeita de que LSD tenha sido colocado na bebida –, a turma surta, inicia um processo psicótico/alucinógeno coletivo e se desintegra. O filme estreia nesta quinta-feira (31) em Belo Horizonte.
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Documentário mostra os 35 anos da banda de rock Ultraje a RigorFé, força e carnaval: filme sobre Bethânia tem religião como eixoBoneco assassino Chucky virará série de TV com roteirista dos filmesPeter Jackson vai fazer documentário sobre 'Let it be', dos BeatlesOs diálogos improvisados são os mais variados possíveis. A conversa machista entre dois dançarinos que viajam na liberação de seu desejo, antecipando tudo o que cada um quer fazer com alguma colega. O jovem gay detalha o que gostaria de fazer com aquele carinha. Mas, de repente, em meio à paranoia que toma conta dos personagens, a barra pesa – pra valer. A bailarina que pressente o perigo tranca o filho pequeno num quarto, perde a chave, e o garoto urra como bicho pedindo socorro à mãe. A grávida surta e tenta se matar.
"Para improvisar, você precisa criar um clima de liberdade e confiança. Precisa deixar seu elenco solto para fazer tentativas. Algumas cenas foram filmadas 15, 17 vezes até atingir a intensidade que eu buscava", conta Gaspar Noé.
Uma parte, justamente a mais intensa, quando todo mundo já está louco, é filmada em plano-sequência. "Não são as partes que têm mais diálogo. Em geral, são as cenas mais físicas. A gente fazia a marcação, delimitava o espaço, o operador e eu ficávamos livres para também participar da dança com o elenco", conta o cineasta.
A alucinação parece tão real que dá a impressão de que os atores se drogaram. "Não, até porque sob efeito de drogas ou bebida eles não rendiam", explica Noé. "Então, o que fiz foi mostrar alguns filmes – Marat Sade, de Peter Brook; Os demônios, de Ken Russell – e documentários sobre drogas e doenças mentais. Meu cinema, apesar da armação ficcional, tem algo de documentário, pelo método."
Assim como Irreversível, Viagem alucinante e Love, outros filmes de Noé, Clímax foi apresentado em Cannes. Em maio do ano passado, passou numa sessão à meia-noite, com direito a tapete vermelho. O argentino é queridinho por lá.
"O Festival de Cannes, como evento midiático, precisa dos escândalos que forneço", afirma, dizendo que não é chato ser o escandaloso do festival francês. "Na verdade, não me sinto assim. Provoco polêmica. Por Viagem alucinante me chamaram até de religioso, na medida em que o filme seria budista", comenta.
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