A Netflix recebeu sua primeira demonstração de legitimidade em Hollywood com as 10 indicações ao Oscar obtidas por Roma, o filme de Alfonso Cuarón produzido pela plataforma de streaming. Mas a empresa está longe de ser aceita de forma unânime por um setor que continua defendendo o modelo tradicional de sua indústria.
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Roma foi exibido em 900 salas de todo o mundo, mais que qualquer outro filme produzido pela Netflix, embora o grupo ainda não tenha comunicado os rendimentos de bilheteria. E a companhia fez muito mais que levar Roma às salas de cinema para atender às regras de habilitação à disputa do Oscar, tendo lançado uma campanha de marketing agressiva, com eventos, pôsteres e anúncios nas redes tradicionais, na qual gastou milhões de dólares.
ATRAÇÃO A plataforma tem sinalizado que a produção de séries ficará em segundo plano em relação à de longas-metragens e, nesse terreno, a Netflix tem procurado atrair cineastas exigentes como Alfonso Cuarón, Martin Scorsese, Steven Soderbergh e os irmãos Coen. O mesmo vem ocorrendo em relação aos atores e atrizes mais prestigiados de Hollywood.
Nesse contexto, segundo os resultados anuais anunciados pela Netflix, junto aos quais publicou cifras de audiência mais completas, o filme Bird box, protagonizado por Sandra Bullock, foi visto em 80 milhões de casas, 58% de seus assinantes.
Para ser aceita pelas instituições do cinema, a Netflix teve de fazer pequenos ajustes que, no entanto, não modificaram seu modelo econômico. O limitado lançamento de Roma nos cinemas ocorreu apenas três semanas antes de o filme ser disponibilizado na plataforma. O prazo habitual acordado atualmente entre as salas americanas e os estúdios é de 90 dias.
Dentro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que realiza o Oscar, “há um contingente (de membros) que considera que um voto para Roma é um voto para a Netflix”, aponta Nicole Laporte, do site especializado Fast Company. “Em outras palavras, um voto para uma empresa cujo modelo de streaming está destruindo a indústria tradicional do cinema”, acrescenta.
“Eles não querem estar na indústria do cinema, mas na indústria da assinatura”, afirma Aswath Damodaran, professor da Escola de Negócios Stern, da Universidade de Nova York, e autor de pesquisas sobre o modelo de negócios da Netflix.
DESTRUIÇÃO Com exceção da Disney, que conta com algumas cartas como Pixar, Star Wars e Marvel, “o resto da indústria do cinema está sendo destruído”, avalia.
Segundo analistas, a plataforma poderia gastar até US$ 15 bilhões (R$ 56,9 bilhões) com produção em 2019, mais que todos os grandes estúdios de Hollywood juntos. Aswath Damodaran diz estar “inquieto por seu modelo econômico, simplesmente pelo dinheiro que gastam em conteúdo”. O futuro do grupo não está em perigo, diz, mas os investidores poderiam se cansar de ver uma companhia crescer nesse ritmo sem gerar caixa.
“Os assinantes foram praticamente condicionados a esperar 100 filmes e séries novas por ano, não sei como vão poder parar isso”, diz. .