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Filme aborda desespero de pai ao descobrir que filho se uniu ao EI

A Tunísia foi um dos países que mais enviou cidadãos para o Estado Islâmico. Até 2016, pelo menos seis mil tunisianos haviam se alistado na organização jihadista. Tal dado, assustador, fez do país do Magrebe uma das principais nações de origem dos combatentes estrangeiros do grupo terrorista.
 
Meu querido filho, segundo longa-metragem do cineasta tunisiano Mohamed Ben Attia (que despontou no cenário internacional com A amante, que levou, em 2016, dois Ursos de Prata no Festival de Berlim) e estreia nesta quinta-feira (3) em Belo Horizonte, foi baseado nos dramas que assolaram milhares de famílias daquele país. Mas o foco, no caso, é o pai, e não o filho.
 
Foi um relato de rádio, em que um pai repetia “meu filho, meu filho”, que chamou a atenção de Ben Attia. Segundo o diretor e roteirista, o que o interessou não foram as razões do jovem em abandonar a vida em família para abraçar a organização terrorista, mas o ponto de vista dos que foram deixados para trás.
 
Riadh Saidi (Mohamed Dhrif) é um trabalhador do cais do porto de Túnis. Em um casamento morno com Nazli (Mouna Mejri) e esperando o dia da aposentadoria chegar, a graça de sua vida é cuidar do filho de 19 anos, Sami (Zakaria Ben Ayyed). Prestes a fazer vestibular, o menino nunca deu grandes problemas aos pais. A maior preocupação é com as constantes enxaquecas do garoto, que o levam a um estado que o pai acredita ser depressão.

FACULDADE A aposentadoria chega, e Riadh planeja levar a vida mais tranquilamente.
Agora, basta Sami começar a faculdade para que tudo esteja encaminhado, o trabalhador acredita. Só que, um dia, o garoto não volta para casa. Deixou apenas um bilhete, avisando que havia partido para a Síria, via Turquia, para se juntar ao Estado Islâmico. Desesperado e contra o bom senso (e a própria mulher), Riadh decide ir atrás do filho.
 
Ben Attia filma o drama com simplicidade. Os planos são longos, sempre muito próximos. Não há grandes arroubos na interpretação. A dor do pai é solitária, como fica claro na passagem do filme por Istambul.
Na cosmopolita capital turca, um mundo em comparação com sua vidinha pacata em Túnis, o homem descobre cafés, kebabs, bares. Mas nada parece importar senão a busca do filho.
 
A jornada de Riadh, no entanto, não é apenas a busca de um pai pelo filho desaparecido. É também uma forma de ele próprio se encontrar e de procurar entender o que levou o garoto a uma atitude tão radical. 
 
A resposta está num curto diálogo que o personagem tem com o dono de uma hospedaria na fronteira da Turquia com a Síria. “O que você queria quando tinha 19 anos?”, pergunta o recepcionista. “Trabalhar, casar, ter uma família”, responde Riadh, em sua simplicidade. “Hoje eles querem mais, mas não sabem o quê”, retruca o homem. 

ESTREIA APLAUDIDA A amante, longa de estreia de Mohamed Ben Attia, aborda o conflito interno de um jovem de Túnis diante da proximidade de seu casamento – arranjado entre sua mãe e o pai da noiva, que pertence a uma família da vizinhança. Seguindo a tradição familiar, os noivos não têm nenhuma intimidade física antes da cerimônia. Mas Hedi (Majd Mastoura) se apaixona por uma monitora de atividades para turistas de um hotel.
Mais velha que ele e de espírito livre, Rym (Rym Ben Massaoud) faz Hedi se questionar sobre sua vida amorosa e profissional. Entre os temas de diálogo do casal, os eventos que deram origem à Primavera Árabe. A amante foi premiado no Festival de Berlim como melhor longa-metragem de estreia e melhor ator ( Mastoura)
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