“Ainda me reservo o direito de ser politicamente incorreto, mas não vou sair do meu caminho para ofender as pessoas”, disse certa vez o cartunista norte-americano John Callahan (1951-2010). Doenças e deficiências eram alguns dos temas que mais apareciam em seus cartuns, sempre com humor ácido e traços um tanto infantis – algo incômodo para boa parte dos leitores.
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O filme só existe, vale dizer, graças a Robin Williams (1951-2014). O ator havia adquirido os direitos de adaptação da biografia de Callahan, Don’t worry, he won’t get far on foot (título original do filme). Depois de trabalhar com Van Sant em Gênio indomável (1997), que lhe deu um Oscar de ator coadjuvante, Williams o convidou para dirigir a adaptação.
Van Sant, que rodou alguns de seus filmes em Portland, Oregon (também a cidade de Callahan), conhecia o trabalho do cartunista. Mas o projeto não saiu do papel. Somente depois da morte de Williams o cineasta resolveu retomar o projeto.
Van Sant recupera a história de Callahan sem qualquer julgamento de caráter. Interpretado com parcimônia por Joaquin Phoenix, o filme vai e volta no tempo, em uma montagem não linear. Acompanhamos a vida um tanto sem sentido do personagem, que bebia do acordar ao dormir, até que um acidente irresponsável o tirou de cena.
ÁLCOOL A paralisia não é o principal problema de Callahan, mas o alcoolismo. Mesmo na cadeira de rodas, o personagem não larga o álcool.
Coadjuvantes de peso dão graça à narrativa. Jonah Hill faz o papel do padrinho de Callahan no AA, Donny, um “messias” com voz calma e frases de autoajuda. A cantora Beth Ditto, da banda Gossip, interpreta uma das companheiras de AA. Em pequena participação, Jack Black emociona como o alcoólatra cheio de culpa, na parte final da narrativa.
Entremeando as idas e vindas do roteiro estão desenhos animados de Callahan, que sempre fogem do politicamente correto. Ainda que a biografia tenha sido o ponto de partida, Van Sant tomou liberdades, fazendo com que A pé ele não vai longe saia da seara das cinebiografias..