O amor pode superar as adversidades da vida? O filme Conquistar, amar e viver intensamente, de Christophe Honoré (Minha mãe, 2004; A bela Junie, 2008), apresenta situações em que o sentimento não é retratado de forma açucarada, mas, diferentemente, nasce na aridez do cotidiano em detrimento ao florescimento das emoções. O filme, que chega aos cinemas nesta quinta (27), aborda sem rodeios e moralismos a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo na Paris dos anos 1990.
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A conversa na sala escura do cinema coloca o cético Jacques diante do sentimentalismo do estudante Arthur (Vicente Lacoste). O interesse pela literatura faz com que prossigam no que poderia ser um contato superficial entre estranhos que se esbarram, mas a conexão intelectual impulsiona o desejo entre eles. A exemplo do filme Me chame pelo seu nome (2018), do diretor Luca Guadagnin, Conquistar, amar e viver intensamente narra o encantamento entre amantes de diferentes idades: Jacques com 35 anos e Arthur com 21. Para Arthur, a relação é a possibilidade de amar um homem, experiência que, até então, não havia vivido, embora tivesse se envolvido sexualmente com pessoas do mesmo sexo. Para Jacques, o encontro é a chance de voltar a amar, depois de uma desilusão que o colocou no universo dos encontros fortuitos.
O romance entre Jacques e Arthur ocorre em 1993, período em que a maior parte das relações homossexuais ainda era vivida às escondidas. No período, a epidemia da Aids se espalhava. O filme apresenta os dilemas dos relacionamentos após a epidemia, quando os desejos precisam ser reprimidos. O resultado são diálogos que conduzem às questões existenciais.
Como portador do vírus HIV, Jacques não consegue ver futuro na relação com Arthur, fazendo de tudo para se distanciar do jovem. Jacques volta a Paris. No entanto, a paixão despertada faz com que o jovem vá em busca do escritor. Paralelamente, o escritor divide os sofrimentos e dilemas com o amigo Mathieu (Denis Podalydès), um jornalista um tanto quanto desajeitado com dificuldade para viver seus desejos, e mantém boa convivência com o filho e a mãe do menino, que respeitam o caminho que o escritor trilhou.
O filme mostra que não deveria existir hierarquia entre amor e desejo e que o afeto pode alimentar todas as relações: entre amigos, entre casais que se separaram, entre amantes fortuitos. Frente à fragilidade da vida, as relações íntimas revelam o sentido da vida: não como algo a se projetar para amanhã, mas o que se tem agora, o que se pode viver no momento.