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CONTRA A CORRENTE DO MEDO

O retorno de Mary Poppins traz Emily Blunt no papel da babá quase perfeita

 


O diretor Rob Marshall sempre sonhou em fazer um musical original, e O retorno de Mary Poppins, que estreia nesta quinta (20) nos cinemas brasileiros, era a ocasião perfeita. Marshall seguiu os mesmos princípios ao procurar o visual do filme. “Queria que fosse clássico, mas não datado”, diz. Ele criou, por exemplo, sua própria versão da sequência de animação em 2D, trazendo artistas de volta da aposentadoria para poder fazê-la. “Essa cena faz parte do DNA de Mary Poppins. Não podia deixá-la de fora.”

Mas os movimentos de câmera são mais modernos e há até algum uso de drones, algo que, acredita o diretor, Walt Disney aprovaria. “Ele sempre tirava vantagem das novidades, das novas tecnologias. Então, usamos, mas mantemos as raízes clássicas do original.” A mesma coisa com cenários, que são um pouco mais realistas, até porque se trata de um período sombrio, mas não totalmente.
“Assim, quando entramos na fantasia, ela explode na tela.”

Em vez do limpador de chaminés Bert (Dick Van Dyke), a nova versão tem o acendedor de lampiões Jack, vivido por Lin-Manuel Miranda, ator e autor do fenômeno da Broadway Hamilton. “Ele é perfeito para o papel, porque tem uma pureza e um otimismo contagiantes”, afirma a atriz Emily Blunt, que vive a personagem-título. Mas Van Dyke, aos 91 anos de idade, faz uma participação especial. “Ninguém ficou de olhos secos no dia em que ele filmou”, contou Miranda. “Passar um tempo com Van Dyke é como tomar cafeína na veia. Ele tem mais energia que qualquer garoto.”

 

 


ENSAIOS Os atores tiveram oito semanas de ensaios, necessários para os números de canto e dança complexos, que deixaram tanto Emily Blunt quanto Lin-Manuel Miranda um pouco preocupados. “Quase tudo foi feito de verdade”, explicou Blunt.

“Dançar fez meus joelhos tremerem. Tenho um passado na ginástica e sei me mover, mas não sou bailarina.” Era o mesmo problema de Miranda: cantar, tudo bem, ele fez durante meses na Broadway. Mas dançar não é seu forte. “Quem viu Hamilton sabe que Hamilton não dança nada.’’

Enquanto ele faz um rap, os outros dançam em torno dele. “Tanto que, no dia da minha grande cena de dança em Mary Poppins, eu trouxe meus pais, minha mulher e meu filho para o estúdio. Sabia que era uma oportunidade única.” Aparentemente, deu certo, já que os dois foram indicados para o Globo de Ouro, e Emily concorre também ao prêmio do Screen Actors Guild.

Para todos os envolvidos, O retorno de Mary Poppins não poderia chegar numa hora mais propícia. “Estávamos desesperados para fazer algo assim – uma fantasia esperançosa e emocionante, para equilibrar com esse mundo em que vivemos”, diz Marshall. “Meryl Streep (que faz uma pequena participação) topou imediatamente, me dizendo: ‘Quero fazer parte do envio desta mensagem bonita.
Para mim, este é um presente para o mundo neste momento’.” 

 

Original é clássico que quase não foi filmado


É uma das histórias célebres de Hollywood. Detentora dos direitos do musical My fair Lady, a empresa produtora Warner investiu numa produção milionária de olho no Oscar. Contratou um grande diretor, George Cukor; o intérprete do papel do professor Higgins na Broadway, Rex Harrison; mas, para Eliza, o estúdio achou arriscado investir numa novata como Julie Andrews, que fizera a personagem no palco. Audrey Hepburn foi chamada, o filme foi um grande sucesso, ganhou todos os Oscars a que tinha direito, menos o de atriz. Quem ficou com a estatueta foi a desprezada pela Warner Julie Andrews, que se refizera da decepção aceitando o papel-título de Mary Poppins na Disney.

Mistura de animação e live action, com canções como Chim-chim-cheree, Mary Poppins foi realizado por um homem de confiança de Walt Disney, Robert Stevenson. Resultou num clássico, um dos filmes mais prazerosos de Hollywood – tão prazeroso que fica difícil acreditar que, na verdade, quase todo o esforço esteve por um triz para não dar certo.

Tom Hanks A produção foi tão tumultuada que daria filme – aliás, deu. Walt nos bastidores de Mary Poppins, com Tom Hanks no papel de Disney, tentando convencer a autora da história, Pamela Travers, de que o filme teria de ser feito nos moldes dele, não nos dela. Pamela, uma inglesa irritante, interpretada por Emma Thompson, fez valer seu ponto de vista. Vale rever o filme de John Lee Hancock como making of do Mary Poppins original.

Julie Andrews já era uma atriz respeitada no teatro quando estreou no cinema em 1964, com Mary Poppins – seu talento musical reforçado pela bela voz de soprano e a fama no palco convenceram Walt Disney a convidá-la para o papel principal.

Julie levou o Oscar de melhor atriz logo em seu primeiro trabalho cinematográfico, o que, para muitos, foi visto como uma doce vingança ao fato de ter sido preterida na versão cinematográfica de My fair Lady. O curioso é que Julie, embora negasse a rivalidade com Audrey Hepburn, manteve seu Oscar escondido durante muito tempo no sótão de sua casa, acreditando ter ganho um “prêmio de consolação”.

“Depois, fazendo uma retrospectiva, concluí que eu era merecedora”, declarou. 

 

Diretor se propôs a fazer homenagem sem cópia 

 


Imagens como a da babá flutuando com seu guarda-chuva, músicas como Feed the birds e expressões como “Supercalifragilisticexpialidocious!” estão marcadas no cérebro dos fãs de Mary Poppins. “Entendo que eles queiram proteger seu filme tão querido”, disse a atriz Emily Blunt, que assumiu a difícil missão de fazer o papel eternizado por Julie Andrews em O retorno de Mary Poppins, continuação do clássico de 1964.

A história se passa cerca de 20 anos após o filme original, quando a Inglaterra está mergulhada na Grande Depressão. As crianças do filme original agora são os adultos Jane (Emily Mortimer) e Michael (Ben Whishaw), que é pai de três, um tanto negligenciados desde a morte de sua mãe. Aí entra Mary Poppins, que não envelheceu nada.

Diretor da sequência – que recebeu quatro indicações ao Globo de Ouro (melhor filme musical ou comédia, melhor atriz, melhor ator e melhor canção original) –, Rob Marshall (Chicago, Caminhos da floresta) resume em uma palavra sua abordagem: “respeito”. “Primeiro de tudo, jamais faria uma refilmagem”, afirmou. “Não ousaria tocar no filme original. Então, tínhamos de encontrar outra forma de contar a história.”

A solução que ele, seu parceiro e coreógrafo John DeLuca e David Magee, autor do roteiro, acharam foi mergulhar nos outros sete livros escritos por P.L. Travers, a arredia autora que foi tema do filme Walt nos bastidores de Mary Poppins. “No fim, disse ‘sim’ também porque não queria correr o risco de outra pessoa dirigir e desrespeitar o filme que amo tanto.”

Então, nenhuma das músicas originais faz parte da continuação, que tem canções novinhas compostas por Marc Shaiman e Scott Wittman. “Rob disse que só contratou pessoas que carregavam no sangue o filme original”, disse Wittman.

“Embora ele não quisesse fazer uma cópia, tínhamos de amar o filme original e honrá-lo em todos os momentos.” A dupla de compositores, apaixonada pelos irmãos Sherman, autores das músicas do primeiro filme, era uma escolha natural. (Estadão Conteúdo) 

 

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