Sidonie-Gabrielle Colette nasceu em Saint-Sauveur-en-Puisaye, no interior da França, em 28 de janeiro de 1873. Moça de poucas posses, poderia ter ficado por lá, dedicada aos afazeres domésticos. Tal destino não seria surpreendente, dado o amor dela pelo campo e pelo fato de o lar ser o destino das mulheres naquele final do século 19.
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O filme Colette, dirigido por Wash Westmoreland, que estreia hoje em BH, mostra a vida da romancista que desafiou sua época e expandiu o campo de atuação das mulheres, inspirando-as a usar cabelos e roupas tidas como masculinas, por exemplo. A francesa contribuiu, de maneira decisiva, para a popularização da literatura em seu país ao introduzir elementos narrativos não comuns aos escritores da época, os homens. A protagonista é vivida por Keira Knightley, que interpretou papéis de época em Orgulho e preconceito (2005), Anna Karenina (2012) e A duquesa (2008).
A mudança na vida da romancista ocorreu em 1893, quando ela se casou com o escritor Henry Gauthier-Villars, o Willy (Dominic West), 14 anos mais velho. Em Paris, o casal passou a conviver com a intelectualidade e socialites. A jovem se mostra pouco afeita a se integrar à sociabilidade baseada na ostentação e futilidades. Willy se dedicava a romances e peças teatrais, mas terceirizava a tarefa a escritores fantasmas. Bon-vivant, aproveitava-se da fama para cortejar as mulheres, apesar de dizer que Colette era o grande amor de sua vida. Gastador inveterado, sempre estava em péssima situação financeira.
MEMÓRIAS
Colette admirava o marido, mas vivia entediada em Paris. Isso muda quando resolve escrever suas memórias de infância, atribuindo nomes fictícios aos personagens. O primeiro leitor foi Willy, que descartou o texto por considerá-lo feminino demais.
Tempos depois, às voltas com as dívidas, Willy retoma a escrita de Colette. Deparando-se com os originais e sem ter como pagar ghost writters, ele lança os textos de Colette – alterados e assinados por ele. O livro se torna sensação de crítica e público, principalmente entre mulheres jovens.
Willy volta às manchetes dos jornais. A personagem Claudine se torna conhecida em toda a França. Virou peça de teatro, marca de produtos de beleza e até de produtos alimentícios. O casal se torna celebridade naquele início do século 20.
TRANS
A vida dá reviravoltas. Willy e Colette se envolvem em casos extraconjugais. Willy obriga a mulher a escrever outros livros, assinando contratos à revelia dela. Em um jantar, Colette conhece Missy (Denise Gough), que se veste como homem, desafiando estereótipos de gênero e causando escândalo. Hoje em dia, diríamos que Missy era um homem trans.
Missy muda a vida de Colette, questionando o controle que Willy exercia sobre ela e as razões de não assinar os próprios livros. A romancista busca no teatro a sua emancipação. Numa peça, contracena com Missy. O beijo das duas causa escândalo. Colette só se torna reconhecida como escritora depois de se separar de Willy – inclusive, tem de lutar pela autoria da série Claudine.
De maneira delicada, o filme mostra Colette livre, tanto do ponto de vista sexual quanto profissional, ao abrir caminhos para a emancipação de todas as mulheres.