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A revolução francesa

Filme 'Colette' mostra empoderamento feminino em 1900


Sidonie-Gabrielle Colette nasceu em Saint-Sauveur-en-Puisaye, no interior da França, em 28 de janeiro de 1873. Moça de poucas posses, poderia ter ficado por lá, dedicada aos afazeres domésticos. Tal destino não seria surpreendente, dado o amor dela pelo campo e pelo fato de o lar ser o destino das mulheres naquele final do século 19.

Tempos depois, quando já vivia em Paris, Colette revela que sabia que não morreria no vilarejo. Faz isso por meio das memórias da personagem do livro Claudine na escola (1900). Aquela menina de ares brejeiros se tornou dos maiores nomes da literatura francesa – indicada ao Prêmio Nobel em 1948. Mais do que isso, quebrou paradigmas da sociedade parisiense no início do século 20.

O filme Colette, dirigido por Wash Westmoreland, que estreia hoje em BH, mostra a vida da romancista que desafiou sua época e expandiu o campo de atuação das mulheres, inspirando-as a usar cabelos e roupas tidas como masculinas, por exemplo. A francesa contribuiu, de maneira decisiva, para a popularização da literatura em seu país ao introduzir elementos narrativos não comuns aos escritores da época, os homens. A protagonista é vivida por Keira Knightley, que interpretou papéis de época em Orgulho e preconceito (2005), Anna Karenina (2012) e A duquesa (2008).

A mudança na vida da romancista ocorreu em 1893, quando ela se casou com o escritor Henry Gauthier-Villars, o Willy (Dominic West), 14 anos mais velho.
Em Paris, o casal passou a conviver com a intelectualidade e socialites. A jovem se mostra pouco afeita a se integrar à sociabilidade baseada na ostentação e futilidades. Willy se dedicava a romances e peças teatrais, mas terceirizava a tarefa a escritores fantasmas. Bon-vivant, aproveitava-se da fama para cortejar as mulheres, apesar de dizer que Colette era o grande amor de sua vida. Gastador inveterado, sempre estava em péssima situação financeira.

 

MEMÓRIAS

Colette admirava o marido, mas vivia entediada em Paris. Isso muda quando resolve escrever suas memórias de infância, atribuindo nomes fictícios aos personagens. O primeiro leitor foi Willy, que descartou o texto por considerá-lo feminino demais.

Tempos depois, às voltas com as dívidas, Willy retoma a escrita de Colette.

Deparando-se com os originais e sem ter como pagar ghost writters, ele lança os textos de Colette – alterados e assinados por ele. O livro se torna sensação de crítica e público, principalmente entre mulheres jovens.

Willy volta às manchetes dos jornais. A personagem Claudine se torna conhecida em toda a França. Virou peça de teatro, marca de produtos de beleza e até de produtos alimentícios. O casal se torna celebridade naquele início do século 20.

 

 


TRANS

A vida dá reviravoltas. Willy e Colette se envolvem em casos extraconjugais. Willy obriga a mulher a escrever outros livros, assinando contratos à revelia dela. Em um jantar, Colette conhece Missy (Denise Gough), que se veste como homem, desafiando estereótipos de gênero e causando escândalo.

Hoje em dia, diríamos que Missy era um homem trans.

Missy muda a vida de Colette, questionando o controle que Willy exercia sobre ela e as razões de não assinar os próprios livros. A romancista busca no teatro a sua emancipação. Numa peça, contracena com Missy. O beijo das duas causa escândalo. Colette só se torna reconhecida como escritora depois de se separar de Willy – inclusive, tem de lutar pela autoria da série Claudine.

De maneira delicada, o filme mostra Colette livre, tanto do ponto de vista sexual quanto profissional, ao abrir caminhos para a emancipação de todas as mulheres.

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