“No mundo de Beijo no asfalto não existem leis, juízes, forças moderadoras, respeito ao direito do próximo, nada, enfim, da organização racional da sociedade. Todos devoram todos. E quem for o mais forte, ou quem tiver maior apetite, é que sobrevive ao fim.”
Leia Mais
Escritor Sebastião Nunes vence Prêmio Governo de Minas GeraisVenda de ingressos para shows de Paul McCartney começa quinta (6)Comediante Kevin Hart será apresentador do Oscar 2019Kevin Hart não apresentará o Oscar após polêmica por tuites homofóbicosÍcone dos anos 90, banda L7 se apresenta em BHRodrigo Albert mostra fotografias e vídeo na exposição Terra prometidaCom mais verba e presença de famosos, terror ganha força no Brasil 'A mata negra', filme de terror brasileiro, estreia em BH Teatro Oficina estreia peça de Chico Buarque com alusão às redes sociaisBons textos, seja de que natureza forem, permanecem. É por isso que, em 2018, justifica-se a terceira versão cinematográfica de O beijo no asfalto. A adaptação do clássico rodrigueano, que chega nesta quinta-feira (6) ao Cine Cidade, em BH, marca também a estreia de Murilo Benício como diretor.
E ele vem bem acompanhado. Lázaro Ramos é Arandir, que tem a vida virada do avesso ao beijar um moribundo na boca. Débora Falabella é Selminha, a mulher do protagonista; Luiza Tiso é Dália, a cunhada de Arandir; e Stênio Garcia vive Aprígio, o sogro.
PRETO E BRANCO O pulo do gato da nova adaptação é a forma, já que Benício pouco mexeu no texto de Nelson Rodrigues. O ator, agora diretor, filmou O beijo no asfalto de maneira metalinguística. O longa foi rodado em preto e branco no teatro do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, no bairro carioca da Tijuca. Apresenta um grupo de atores discutindo o texto enquanto o enredo se desenrola em externas (poucas) ou em momentos filmados em cenários do próprio teatro.
Na grande mesa com todo o elenco há a leitura de O beijo no asfalto, aqui conduzida pelo diretor de teatro Amir Haddad. À medida que a narrativa se desenrola, acompanhamos os atores em diferentes cenários. Em certo momento, Débora Falabella e Luiza Tiso estão se preparando no camarim, enquanto dizem as falas de Selminha e Dália. Noutro, vemos o embate do Aprígio de Stênio Garcia com as duas filhas no cenário que seria a casa.
Na leitura do texto, o destaque é Fernanda Montenegro.
“O Nelson não está, meu anjo. Aqui quem fala é o Nestor.” Fernanda Montenegro adora contar a história de como o dramaturgo enrolou o Teatro dos Sete com o texto – levou um ano para ele entregar o original. A atriz cansou de ligar para Nelson, que atendia ao telefone e dizia ser outra pessoa. Mas quem o conhecia sabia como seu tom de voz era inconfundível.
O enredo mostra a repercussão na vida de Arandir do que o personagem chama de ato de misericórdia. Um homem, que ele nunca viu é atropelado no Rio de Janeiro dos anos 1960. À beira da morte no meio da rua, Arandir ouve o pedido por um beijo.
Benício, que demorou uma década para realizar seu primeiro longa, sempre pensou em filmar O beijo no asfalto fazendo a interseção entre cinema e teatro. “Sempre que via os filmes, me interessava em saber como eles foram feitos. Acompanhava a fala dos diretores, ia aos extras. Queria fazer um filme de cujo processo o espectador tivesse a oportunidade de participar, ver o que está atrás das câmeras. Acho que há o interesse das pessoas em ver como é a rotina do ator, o que acontece quando ele vai levar uma obra, como estuda os personagens”, diz.
O longa foi rodado em 2015. “Tive muito medo de chegar ao set sem saber onde colocar a câmera”, admite Benício. Walter Carvalho assumiu tanto a câmera quanto a direção de fotografia. A leitura dramática foi filmada em somente um dia. Ali, Benício colocou Amir Haddad como o diretor da peça. “Deixei todos super à vontade para falar o que quisessem, inclusive para interromper a leitura e fazer alguma observação.” É em momentos assim que a figura de Fernanda Montenegro se sobrepõe aos demais, dando a dimensão histórica da montagem.
O impressionante é ver que, 57 anos mais tarde, a atualidade de O beijo no asfalto se mantém.
NA TELA
O beijo no asfalto ganhou outras duas versões no cinema. Em 1981, foi lançado o filme dirigido por Bruno Barreto, com Tarcísio Meira (Aprígio), Ney Latorraca (Arandir), Lídia Brondi (Dália) e Christiane Torloni (Selminha) no elenco. Em 1965, estreou o longa de Flávio Tambellini, com Xandó Batista, Reginaldo Faria, Norma Blum e Nelly Martins nos mesmos papéis