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Com Viola Davis, 'As viúvas' questiona valores no mundo contemporâneo

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Corrupção, racismo e um roubo milionário dão o tom de As viúvas, novo filme de Steve McQueen – diretor do premiado 12 anos de escravidão (2013). O longa, que estreia nesta quinta-feira (29) em BH, inspira-se no livro homônimo de Lynda La Plante, adaptado por Gillian Flynn – autora dos best-sellers Garota exemplar e Objetos cortantes. O elenco, encabeçado por Viola Davis (vencedora do Oscar), acompanhada de um time de peso, fazem desse thriller forte concorrente à próxima temporada de prêmios em Hollywood.

Davis interpreta Veronica, que acaba de perder o marido (Liam Neeson) em assalto que terminou com a morte dos criminosos. Ameaçada e endividada por conta dos negócios escusos dele, Veronica procura as viúvas dos outros ladrões – a imigrante Linda (Michelle Rodriguez), a submissa Alice (Elizabeth Debicki) e a batalhadora Belle (Cynthia Erivo) – a fim de vingar os companheiros e terminar o trabalho.

O quarteto compra briga com Jamal (Brian Tyree Henry), um político influente. Seu maior adversário é Jack Mulligan (Colin Farrell), cuja candidatura a vereador é impulsionada pela experiência do pai, o veterano Tom Mulligan (Robert Duvall), que não aceita perder para um adversário negro.

O enorme elenco se justifica, pois todos os personagens centrais têm algo a acrescentar à narrativa. Há pelo menos uma cena determinante para cada um deles. Ainda assim, um conjunto mais enxuto privilegiaria os dramas que mobilizam o espectador, a exemplo da tragédia pessoal de Veronica e da violência - doméstica e parental - sofrida por Alice. Se alguns personagens têm mais espaço, outros, tão interessantes quanto, ganham pouco destaque, como Belle.

JULGAMENTO O longa não “compra” o lado dos criminosos, mas foge do julgamento moral de suas condutas.
Se os vilões são verdadeiros sociopatas, os heróis também se valem de métodos nada ortodoxos para ir à forra.

Vale destacar a atuação de Daniel Kaluuya – dos recentes sucessos Corra! (2017) e Pantera Negra (2018). Ele interpreta Jatemme, capanga e comparsa de Jamal. A dupla é capaz de covardias e atos estarrecedores – numa dessas cenas, o personagem de Brian Tyree Henry ameaça Veronica de morte, enquanto brinca com o cachorro da vítima.

O título As viúvas não traduz com completude a proposta do livro e do filme, bem mais pretensiosa do que o sugerido. Repleta de reviravoltas, a trama não se restringe ao empoderamento e à força feminina - o encontro das quatro vingadoras, inclusive, demora a ocorrer. Mais que isso, o texto traça sutil crítica à deturpação dos valores humanos, revelando uma Chicago marcada por violência, soberba e ganância.

 

Assista ao trailer:

 

LIVRO O romance que inspirou As viúvas ganha agora a primeira edição brasileira, pela Editora Intrínseca. A história foi inicialmente apresentada como minissérie na TV londrina, exibida em 1983. Só depois, na mesma década, chegou ao mercado editorial.

 

A ação do romance, ambientada na capital inglesa e transferida para Chicago no filme, narra a entrada de Dolly, Linda e Shirley no mundo do crime.

Os mafiosos ingleses do livro foram substituídos por corruptos políticos americanos na telona.

Fã do romance de Lynda La Plante desde jovem, o diretor McQueen procurou a autora para negociar a adaptação para o cinema. A autora recomenda ao público que não compare sua história ao filme, mas ressalta que ambos os trabalhos têm a força feminina como motor principal.



AS VÍUVAS
. De Lynda La Plante
. Editora Intrínseca
. 400 páginas
. R$ 49,90 (impresso) e R$ 34,90 (e-book)

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