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Embora a montagem do filme tenha ocorrido em abril deste ano – portanto, antes do início das campanha à Presidência da República –, o diretor destaca que ali estão as origens do bolsonarismo. “Filmamos o parto do nosso atual paspalho chefe”, afirma.
BASTIDORES Além de imagens vistas várias vezes na TV nos últimos anos – como a emblemática e tumultuada votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, discursos de Dilma, Lula, Eduardo Cunha, Michel Temer e Aécio Neves –, o filme traz cenas exclusivas que revelam detalhes da atividade parlamentar.

“Não quis mostrar uma guerra de slogans. Queria mostrar onde as coisas estavam acontecendo. Acho que essa batalha não é vencida ou perdida com slogans. Por isso a insistência com o Silvio Costa – deputado federal pernambucano do PT do B, hoje Avante, que integrava a liderança do governo na Câmara. Ele diz conhecer 450 deputados pelo nome, sorrisos e lágrimas”, afirma o cineasta. “Foi assim que o impeachment foi definido, e não dizendo ‘não vai ter golpe’, nem que a Dilma era corrupta. O Carlos Marun (MDB-RS) deixa isso muito claro. O filme até tem essas dimensões, as manifestações do MST, dos indígenas, das mulheres e outras dimensões do simbólico. Mas o foco é outro”, afirma Douglas Duarte.
O diretor diz que nenhum filme tem que ser neutro, mas descarta ter “escolhido um lado” na abordagem de Excelentíssimos. De acordo com ele, há diferença entre o registro do documentário e aqueles comumente vistos na imprensa. “Para a maioria dos repórteres, muita coisa que registramos não tem valor jornalístico. Se a gente registra o Silvio Costa agarrando parlamentares pelo braço e conversando, de modo muito tátil, isso não tem valor para a imprensa, pois ela vê isso todos os dias. Mas, para nós, isso é cinema”, exemplifica.
DETALHES O documentário valoriza justamente detalhes comportamentais de políticos, muitas vezes em tom cômico. Diferentemente de O processo, outro filme sobre o impeachment dirigido por Maria Augusta Ramos, Excelentíssimos não detalha o desenrolar jurídico dos acontecimentos. O foco é o recorte mais amplo dos fatos, apesar da proximidade quase íntima com alguns personagens.
Duarte entende que Excelentíssimos é um instrumento para a compreensão da história recente do Brasil. “Quando a gente montou o filme, não tinha como saber que Bolsonaro ia ganhar. Tentamos escolher o que achávamos importante. Bolsonaro já tinha um culto importante em torno dele, com pretensões presidenciais. Nosso material mostra isso e deveria estar ali de qualquer forma. Nosso filme traz a gênese do que ocorreu em 2018. As pesquisas mostram isso também. Ele era ninguém antes do impeachment, mas deixou de ser um deputado nanico e bizarro para acabar eleito presidente”, conclui Douglas Duarte.