O cineasta mineiro Reginaldo Gontijo acredita que é possível um homem se encaixar na delicadeza do universo feminino. E comprova isso com o longa infantil O colar de Coralina, em cartaz em BH. A poesia aproximou Gontijo – diretor dos documentários O mar de Mário (2010), que explora feitos do cineasta pioneiro Mário Peixoto, e Eudoro e o logos Heráclito (2012), sobre o filósofo Eudoro de Souza – do universo da escritora goiana Cora Coralina (1889-1985).
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O longa incorpora o que Gontijo percebe como “uma obra à parte”: a trilha sonora, criada com exclusividade por Carina Correia e João Ferreira. O diretor se baseia no poema O prato azul-pombinho, quase um roteiro pronto. “Inclusive, usamos a poesia na íntegra, com imagens em animação (computação gráfica) narrando tudo. O filme tem o ritmo da literatura da Cora: o ambiente hostil à educação das mulheres, o papel da mulher na sociedade daquela época, o que ela aborda tão bem. E o esforço da menina que sonhava ser poetisa”, comenta. Essa garota é a pequena Ana (que viria a se tornar Cora), retratada com o nome de batismo Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas.
A carga saudosista é um dos elementos do enredo, inspirado na infância de Cora Coralina. “A poesia, por si, cria uma atemporalidade. A arte e a poesia, em particular, podem transcender a tudo, inclusive ao agora e ao outrora”, diz Gontijo.
CORONÉIS Estão em cena oito mulheres de várias gerações: a bisavó, a mãe (Letícia Sabatella), tias e uma empregada, a ex-escrava interpretada por Valdelice Moreno. “O machismo está presente até hoje na sociedade, mas grande parte das mulheres do filme também incorpora esse machismo, com questões relacionadas a casamento. A falta de homens em cena é mais por questão financeira mesmo: a mãe (Sabatella) desafia os coronéis da época para sobreviver e pôr comida na mesa”, explica Gontijo.
O roteiro é assinado por Geraldo Lima. O elenco reúne também as atrizes Magna Oliveira e Paula Passos. O cuidado foi grande com jovens intérpretes, como Rebeca Vasconcelos. “Ficamos um ano treinando as crianças. Ao dirigi-las, o importante é não tratá-las como adultas. As crianças têm o seu ritmo próprio”, diz Reginaldo.
O colar de Coralina contou com a participação de Dizo dal Moro, morto no ano passado. “Ele dirigiu a fotografia, fez a luz em 18 variações, para se ter uma ideia. Na sala da família, onde quase tudo ocorre, Dizo criou a noção de manhã, tarde, noite, tarde com chuva, lua cheia, lua minguante e por aí vai”, revela Gontijo.