Extenso panorama da obra de Stanley Kubrick (1928-1999) entra em cartaz a partir deste sábado (17), no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte. Considerado um dos mais completos diretores da história do cinema, o norte-americano transitou por diversos estilos e brindou o público com títulos cultuados, como Spartacus (1960), 2001 – Uma odisseia no espaço (1968), Laranja mecânica (1971) e O iluminado (1980).
Até 30 de novembro, no Cine Theatro Brasil Vallourec, serão exibidos 13 longas e três curtas do diretor. O evento O cinema de Stanley Kubrick – Uma odisseia no Cine Brasil homenageia os 50 anos de 2001..., considerado obra-prima do diretor.
De acordo com o professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini, curador da mostra, o cinema de Kubrick tem a capacidade de transpor o espectador aos universos retratados – seja o espaço sideral da ficção científica ou a Europa do século 18, reconstituída em Barry Lyndon (1975).
“Acredito que o maior diferencial desse cineasta com tantos méritos é a visão de mundo, que ele constrói a partir de uma mise-en-scène elaborada para que o cinema atinja seu potencial máximo de expressão. A perfeição técnica da articulação entre áudio e imagem cria experiência única para o espectador”, diz Ciccarini.
Kubrick se propunha a fazer filmes definitivos nos gêneros a que se dedicava. Esse empenho, diz o consultor, garantia empreitadas bem-sucedidas do drama à comédia, do suspense à ficção científica.
Ainda que plural em estilos, a obra de Kubrick abordou alguns temas recorrentes – entre eles, a origem e o destino da vida, o questionamento de pressupostos históricos e os limites entre a razão e a loucura.
“Kubrick tinha a crença fundamental de que o cinema é capaz de expressar ideias como outras artes não conseguem fazer. Justamente por articular som e imagem, ela atinge os níveis intelectual e sensorial, diferentemente da filosofia e da literatura, por exemplo”, diz Ciccarini.
PERFEIÇÃO Reconhecido pelo rigor, sempre levado às últimas consequências, Kubrick trabalhava intensamente para que cada cena saísse exatamente como desejava.
“O perfeccionismo é uma característica interessante, mas por si só não diz muita coisa. Pode-se fazer arte milimetricamente trabalhada e tecnicamente correta sem dizer muita coisa. Esse traço da personalidade de Kubrick servia a uma consciência artística muito segura”, defende o curador.
A busca pela perfeição marca cinematografia dedicada, sobretudo, a tratar das falhas e deficiências humanas. O curador observa que a razão, a inteligência e os paradoxos humanos são temas centrais em boa parte dos filmes de Kubrick. De forma recorrente, seus protagonistas se encontram no limiar da loucura, caso do atormentado pai de família de O iluminado (1980) e do marido ciumento de De olhos bem fechados (1999).
A guerra está em cena em três filmes: Medo e desejo (1953), Glória feita de sangue (1957) e Nascido para matar (1987). “Ela se repete na obra de Kubrick por ser o paradoxo máximo da inteligência humana. É a maior expressão da imbecilidade do homem, que usa a inteligência para se matar. Somos capazes das coisas mais incríveis e também das mais idiotas, como a criação da bomba atômica”, diz Ciccarini.
“Com tais abordagens, o próprio perfeccionismo se torna paradoxal. O fazer cinematográfico do Kubrick traz a dialética entre controle e descontrole análoga a seus personagens. Ele era obsessivo pela composição de planos simétricos, mas falava de um mundo assimétrico por excelência.”
CURTAS Um dos atrativos da mostra serão filmes não tão célebres do diretor nova-iorquino, a começar por seu primeiro trabalho, o curta-metragem documental O padre voador (1951). Rodado de forma precária e com baixíssimo orçamento, era algo que Kubrick preferia esquecer.
“É interessante que uma obra tão fortemente ficcional tenha começado por documentários, mas o fato revela o profundo interesse do diretor pela realidade”, explica o curador.
A programação contará também com A morte passou por perto (1955), que buscou referências aos filmes noir da década de 1940. “Desse gênero, ele traz o pessimismo e a visão crítica do mundo, muito importantes para sua formação como cineasta”, explica o curador.
O drama A. I. – Inteligência artificial (2001), dirigido por Steven Spielberg a partir do argumento de Kubrick, é outro destaque. “Mais do que afirmar que esse é um filme kubrickiano, sua escolha vem como uma provocação curatorial, convidando a perceber o que há do Kubrick e o que há do Spielberg na produção”, comenta Ciccarini.
Esses e outros aspectos da obra de Stanley Kubrick serão abordados por Ciccarini no curso que será ministrado neste sábado (17), das 9h às 17h. As vagas são limitadas.
O CINEMA DE STANLEY KUBRICK
Até 30 de novembro. Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec. Praça Sete, Centro, (31) 3201-5211 e 3243-1964. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). Programação completa: cinetheatrobrasil.com.br
PROGRAMAÇÃO
» Sábado (17)
9h às 17h: Curso ministrado pelo professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini
19h: Medo e desejo, na sequência dos curtas O padre voador, O dia da luta e The seafarers. Sessão comentada pelo professor José Ricardo Jr.
» Domingo (18)
16h: A morte passou por perto
17h30: Nascido para matar. Sessão comentada pelo crítico, roteirista e diretor Ewerton Belico
» Segunda (19)
16h: O grande golpe
17h30: O iluminado
20h: Glória feita de sangue. Sessão comentada pela professora Ana Lúcia Andrade
» Terça (20)
16h: Spartacus
19h30: Laranja mecânica
» Quarta (21)
16h: Lolita
19h: 2001 – Uma odisseia
no espaço
» Quinta (22)
16h: Dr. Fantástico
18h: Barry Lyndon
» Sexta (23)
16h: De olhos bem fechados
19h: A. I. – Inteligência artificial
» Sábado (24)
16h: 2001 – Uma odisseia
no espaço
19h: O iluminado
» Domingo (25)
16h: Laranja mecânica
18h30: O grande golpe
» Segunda (26)
16h: Medo e desejo
19h: Dr. Fantástico
» Terça (27)
16h: Nascido para matar
18h: Spartacus
» Quarta (28)
16h: Barry Lyndon
20h: A morte passou por perto
» Quinta (29)
16h: A. I. – Inteligência artificial
19h: Lolita
» Sexta (30)
16h: Glória feita de sangue
18h30: De olhos bem fechados