Quem não tem uma música que marcou “aquele” momento da vida? Seja um relacionamento amoroso, uma amizade, uma viagem... Esse mote inspirou a diretora Joana Mariani a escrever o argumento de Todas as canções de amor. Em cartaz em BH, o filme marca a estreia dela na ficção.
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O fim e o começo se “encontram” nessa história. Enquanto Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) curtem a fase das descobertas do amor, Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Julio Andrade), os antigos moradores do apartamento, estão prestes a se separar.
“O que tem em comum entre os casais é a força feminina. São duas mulheres extremamente fortes, apesar das idades diferentes e de momentos distintos da vida. Elas têm atitude, sabem o que querem”, observa a diretora.
Já os homens adotam posturas opostas. Daniel é um músico que, curiosamente, não sabe escutar. Por isso, a mulher grava a fita. “Quem sabe, ouvindo música em vez de ouvir a minha voz, você entende o que estou querendo falar?”, afirma Clarice. “O personagem tem uma limitação emocional. Por meio das canções, ele até consegue absorver um pouco do que a mulher quer dizer.
ELO
“Personagem”, a música vem unir as tramas paralelas. “Ela se tornou um elo. Não queria que o filme se tornasse uma grande D. R de dois casais”, comenta a cineasta, referindo-se ao apelido das discussões de relacionamento. A trilha sonora traz de tudo um pouco: Gilberto Gil, Chico Buarque, Marina Lima, Rita Lee, Kaoma, Leandro e Leonardo, Marisa Monte, Lulu Santos, Cartola e Velvet Underground.
“Sou uma pessoa muito eclética. Gosto de samba, sertanejo, lambada, MPB. A música vai te guiando para se sentir triste ou feliz, para querer dançar ou chorar”, acredita Joana. A playlist é reflexo não só das escolhas da própria cineasta, como dos roteiristas e da cantora e compositora Maria Gadú, responsável pela direção musical.
Gadú assinou arranjos e interpretou Eu sei que vou te amar.
RECORTE
O momento é oportuno para o filme estrear, depois da campanha eleitoral marcada pela intolerância. “Fizemos um recorte, que é a finitude, mas o amor resume essa história. As pessoas estão precisando de histórias de amor”, pontua Joana Mariani. Há dois anos, quando ela e a sócia, Diane Maia, abriram a produtora audiovisual Mar Filmes, a ideia era experimentar novidades.
“O cinema nacional estava muito focado nas comédias. Daí a ideia de inovar. Romance é pouco visitado por aqui. Adoro, cresci assistindo a esse tipo de filme. O último longa brasileiro do gênero que fez sucesso foi Pequeno dicionário amoroso (2001). Tem quase 20 anos”, lamenta Joana.
A produtora Diane Maia, mineira de Raul Soares, mora em São Paulo há 15 anos. De acordo com ela, lançar um romance no atual cenário do país foi um desafio.
Um dos destaques do longa é a fotografia, que conta com tecnologia de ponta: um painel de LED nunca usado no Brasil. Diane explica que a intenção é valorizar o chamado filme de ator. Por isso, foi importante encontrar o melhor ambiente para a dramaturgia. “Decidimos replicar, em estúdio, a sala do apartamento onde os casais vivem. Em diversos dias, filmamos a noite, o amanhecer, o entardecer nesse apartamento real e replicamos os vídeos no painel de LED”, detalha.
Na semana passada, Todas as canções de amor conquistou o prêmio da crítica de melhor filme brasileiro concedido pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “Nossa produtora vem colhendo bons frutos. Ganhamos também o Prêmio Anistia Internacional com THF – Central Airport, de Karim Aïnouz, que estreou na Berlinale 2018. Vamos fazer documentário e musical sobre o Sidney Magal, o drama histórico Cyclone, do Karim, e a animação 3D dos Saltimbancos. É um excelente começo”, comenta Diane que também está desenvolvendo uma história que será retratada em Belo Horizonte. "Quero muito contar um pouco das minhas raízes. Minha mãe ainda mora em BH, sou atleticana doente e por isso vira e mexe estou aí. Minha filha Nina, de 15 anos, que aliás canta I will survive em Todas as canções de amor, também é mineira. Adoro Minas", celebra.
CASAL
Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa formam um casal tanto em Todas as canções de amor quanto em O sétimo guardião, novela que estreia na segunda-feira (12). Porém, o projeto do filme é anterior ao folhetim da Globo.
Joana Mariani diz que imaginou o longa especialmente para o elenco. “O embrião nasceu há sete anos. Luiza é minha prima, uma grande atriz, prometi um personagem pra ela. Conheci o Julinho Andrade no filme A Estrada 47, do qual fui diretora-assistente. Nas noites de violão no quarto dele, na Itália, comecei a imaginar o Daniel”, revela.
Bruno é amigo da cineasta há vários anos. O personagem Ana surgiu depois. “Os atores se encaixaram justamente porque os papéis foram escritos para eles. Deu supercerto, porque os casais tiveram excelente química”, conclui Joana Mariani.
Bruno Gagliasso brinca que após estrelar filme, comercial e agora a novela ao lado de Marina Ruy Barbosa um está até se cansando do outro. "É muito fácil trabalhar com a Marina, pois ela é uma artista muito dedicada e estudiosa. O mais interessante é que cada trabalho é um encontro diferente, porque são personagens diferentes, contextos diferentes. Essa "química" vem da vontade nossa de fazer dar certo. A gente rodou o filme antes da novela e coincidiu de o lançamento dos dois ser simultâneos", comenta o ator que também é um dos coprodutores de Todas as canções de amor.
"A experiência foi ótima porque eu acredito no projeto e pude me envolver nele de outra forma; tenho esse olhar também. Conversei bastante com a Diane, que é a produtora-executiva, e foi um aprendizado", emenda.
Três perguntas para... Bruno Gagliasso, ator
O que mais o atraiu em Todas as canções de amor?
Poder falar de amor nestes tempos em que a gente precisa tanto dele. É um romance, gênero não muito comum no cinema brasileiro. Um filme sensível, que traz um olhar poético sobre as relações e os conflitos a partir da música, o fio condutor da história. O encontro com a Joana Mariani foi muito feliz. Certamente, vamos nos reencontrar.
Qual é a principal mensagem do filme?
Há poesia e beleza até nos relacionamentos que chegam ao fim. E a música salva.
Você tem uma canção de amor preferida, alguma marcante em sua história com Giovanna Ewbank, com quem é casado?
Vou responder de forma geral. As cinco músicas de amor de que mais gosto são Drão e A novidade (Gilberto Gil), Fotografia (Leoni), Trevo (Anavitória) e Trem-bala (Ana Vilela).