Chega ao cinema brasileiro a tendência de transpor HQs de ação para a telona, que, há décadas, garante altas bilheterias a Hollywood. O Doutrinador é adaptação da série de quadrinhos criada pelo designer gráfico Luciano Cunha, em 2008, sobre o anti-herói obstinado em exterminar a corrupção no Brasil. O longa estreia nesta quinta-feira (1º/11), marcando o primeiro voo solo do cineasta Gustavo Bonafé – que dirigiu, ao lado de Johnny Araújo, a comédia Chocante (2017) e o recém-lançado Legalize já – Amizade nunca morre, sobre a trajetória da banda Planet Hemp.
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'Vai Anitta': documentário sobre trajetória da cantora tem trailer divulgadoRodrigo Hilbert completa mais um ano no comando de 'Tempero de Família'Terceiro filme de 'Animais Fantásticos' pode ser filmado no BrasilCineasta gaúcho prepara documentário sobre arquitetura brasileira modernistaMarcelo Jeneci traz show com pegada intimista a BHCom atitudes controversas e motivado por um episódio pessoal – e não pelo desejo de justiça –, O Doutrinador não assume o posto de salvador da pátria, afirma Gustavo Bonafé. “Mesmo no filme, ele não é visto dessa forma, já que os personagens negam as atitudes dele”, observa o diretor. Ainda assim, o cineasta entende como oportuno o adiamento da estreia do longa, que só ocorre agora, depois do segundo turno das eleições presidenciais. “Não lançá-lo durante o período eleitoral afastou a possibilidade de o filme ser veiculado a um candidato ou outro”, afirma.
REALISTA
O longa de Gustavo Bonafé e os quadrinhos de Luciano Cunha mantêm a pegada realista.
“Criamos uma cidade fictícia, com todo o trabalho da direção de arte e da fotografia, com luzes coloridas e muito néon, para o personagem se inserir em seu próprio universo de forma mais orgânica. Se o trouxéssemos para o mundo real, talvez o espectador tivesse dificuldade em comprar a ideia”, explica o cineasta.
Bonafé quer mostrar ao público que o cinema brasileiro é capaz de produzir filmes inspirados em HQs de ação, como ocorre com blockbusters da Marvel e da DC Comics. “Foi desafiador dirigir um projeto tão ousado com a ambição de lançar um filme de gênero tão diferente do que tem sido feito no Brasil. A ideia é que O Doutrinador possa abrir portas e estimular esse mercado. Por algum tempo, nosso cinema produziu muita comédia, sem espaço para ação e terror, entre outros estilos”, opina.
O universo dos quadrinhos está presente no longa por meio da personagem Nina (Tainá Medina), uma hacker black bloc. Ela trabalha em uma loja de HQs e se torna braço direito do protagonista.
INIMIGO
Também estão em cena integrantes de bancadas religiosas e famílias que fazem da política seu ganha-pão por várias gerações. O Doutrinador oferece um retrato da cena política brasileira, mas sem referência direta a figuras públicas – apesar de algumas semelhanças. “O herói tem este inimigo comum a toda a sociedade brasileira: a corrupção. E em todas as esferas, não só a política”, observa Bonafé.
No ato final, o longa se volta para o espectador, questionando desvios éticos que se manifestam no dia a dia de cada cidadão. “É um convite à reflexão, válido para todos nós, mais que uma crítica à sociedade. O inimigo existe, mas é preciso olhar também para si mesmo, para o quanto somos responsáveis por esse inimigo”, diz o cineasta.
Em vez do habitual “fim”, o longa se encerra com a promessa de uma série, que será exibida pelo canal Space em 2019. As gravações ocorreram paralelamente às do filme, mas o diretor esclarece que não se trata de continuação.
“A série vai se aprofundar na história, com caminhos diferentes e várias surpresas.