Se ela diz que seu nome é “agora”, podemos entender que Elza Soares é sinônimo de cantora mundialmente reverenciada, dona de voz marcante e com representatividade peculiar na música brasileira. No entanto, o caminho não foi fácil para essa carioca de 81 anos.
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A estrela não parece ser entrevistada, como é de costume em documentários. Elza surge recitando versos ou cantando. Em outra performance, fala diante do espelho enquanto passa batom. Por meio dessas expressões, o filme traça uma narrativa biográfica que, na visão da diretora, confunde-se com a do povo brasileiro.
“Conheci a Elza pessoalmente em 2008 e fiz uma pesquisa para desenvolver o meu primeiro longa. Fiquei impressionada com a potência dela, sobretudo depois de um show no Palácio das Artes. Minha ideia era a Elza em primeiro plano para documentar não só a obra, mas a história de vida dessa personagem que reflete a identidade do nosso país”, afirma Elizabete, que começou a filmar o documentário em 2012.
Em cena, a artista fala sobre a infância pobre em Padre Miguel, os preconceitos que sofreu, “acariciada por janelas”, e sobre o caso da gilete que jogaram dentro de seu vestido. Também confidencia o desespero com a morte do filho Manoel Francisco dos Santos Júnior, o Garrinchinha, aos 9 anos. Mas passa a mensagem da superação, diz ter encontrado “forças para achar tudo engraçado, dizendo foda-se, foda-se, foda-se para as pancadas e humilhações”. Na frase que deu nome ao projeto, Elza afirma: “Parece que nasci agora, tudo meu é agora. Por isso my name is now!”.
A voz de Elza, em verso ou prosa, é intercalada com imagens muitas vezes abstratas. “Queria fugir do formato documentário tradicional, com perguntas e respostas. Apostei muito na música como roteiro e ritmo do filme”, explica a diretora.
Exemplo disso é o momento em que a artista é massageada ao som da canção A carne (negra), de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti. “Essa cena tem a ver com sofrimento do povo negro, a massagem se contrapõe ao verso ‘a carne mais barata do mercado/ é a carne negra’, mostrando que ela precisa ser cuidada, bem tratada. É uma metáfora que se opõe à dor”, argumenta Elizabete.
Elza Soares acompanhou de perto a produção e assistiu à versão final três vezes, em festivais. “É um filme que traz coisas bem difíceis para ela, assuntos nos quais ela não tocava. Mas Elza diz que retrata bem a fase da vida dela na época em que gravamos, antes de 2014, quando não estava tão no auge como agora. Foi importante construir o arco da personagem que dá a volta por cima”, conclui a diretora.