Em 15 de outubro de 1940, em pleno avanço do Nazismo pela Europa, coube a Charles Chaplin fazer ecoar o discurso de paz que a humanidade, àquela altura, julgava derrotado. “O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza”, diz um trecho da peça exibida nas cenas finais do clássico O grande ditador, considerada uma obra-prima de Chaplin. As palavras saem da boca de um barbeiro judeu, vestido de militar.
O filme de Chaplin está na mostra Era dos Extremos, que começa neste domingo (28) e vai até 21 de novembro no Cine Humberto Mauro. A programação inclui 30 obras sobre a Segunda Guerra Mundial, entre longas, curtas-metragens, documentários e raridades. Segundo o curador Bruno Hilário, 73 anos após o término do conflito mais traumático da era moderna, as obras ainda constituem uma espécie de testamento humanista capaz de resgatar a lucidez nas discussões que envolvem o atual momento das democracias, contaminadas pela cólera das redes sociais.
“Não só no Brasil como no mundo assistimos à ascensão de uma onda conservadora sustentada por discursos totalitários, ultranacionalistas, de caráter fascista. Nossa intenção é que esses filmes, que recuperam o modo como as sociedades das décadas de 1920 e 1930 foram seduzidas por esses discursos, levem as pessoas a refletir até onde ele pode nos conduzir, ou seja: todo o horror de eliminação das diferenças, supremacia étnica, racional e ideológica a que assistimos durante a Segunda Guerra”, afirma o curador.
Entre os destaques da programação está Arquitetura da destruição (Peter Cohen, 1989), documentário que aborda como o ideal nazista usou o cinema, entre outros recursos estéticos, para convencer a classe média alemã a validar o extermínio em massa de judeus em câmaras gás. Filmado nos escombros da cidade destruída pela guerra, em 1945, o título traz à tona o momento em que a capital italiana é declarada pelas autoridades civis e militares como cidade aberta, ou seja: na iminência de ser atacada ou invadida. Um dia especial (1977), longa de Ettore Scola estrelado por Marcello Mastroianni e Sophia Loren, reproduz um encontro entre Hitler e Mussolini na Itália e permite enxergar o espaço reservado à mulher no contexto fascista.
“Para além do resultado da eleição – e a despeito dele – sentimos que é o momento de prestar atenção.
Desdobramento do projeto História Permanente do Cinema, a mostra Era dos Extremos promoverá quatro sessões comentadas. O ciclo inclui ainda uma raridade: o longa Trás-os-Montes (1976), de António Reis e Margarida Cordeiro, em cópia restaurada pela Cinemateca Portuguesa, que a cedeu para a mostra.
ERA DOS EXTREMOS
Mostra com 30 filmes sobre a Segunda Guerra Mundial. No Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537), de 28/10 a 21/11. Entrada franca (os ingressos são distribuídos uma hora antes de cada sessão).