América do Sul tenta repetir façanha de 2018 e levar mais uma estatueta

Chile levou Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano com 'Uma mulher fantástica'

por Mariana Peixoto 17/10/2018 08:50

Agora são 87, que se tornarão nove em dezembro e cinco em janeiro. Com a corrida ao Oscar 2019 iniciada neste mês, produções de todo o mundo disputam uma indicação ao prêmio de filme estrangeiro. Os longas inscritos na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foram indicados por seus respectivos países.

Quinho/E.M/D.A Press
(foto: Quinho/E.M/D.A Press)

O Brasil, que não consegue uma indicação desde Central do Brasil (1999), de Walter Salles, desta vez tenta uma vaga na disputa com O grande circo místico, de Cacá Diegues, que estreia nos cinemas brasileiros em 15 de novembro – o filme já foi exibido nos festivais de Cannes e de Gramado.

Os concorrentes na 91ª edição do Oscar serão anunciadas em 22 de janeiro – os prêmios serão entregues em 24 de fevereiro. Depois que o chileno Uma mulher fantástica, de Sebastián Lelio, venceu neste ano a categoria de melhor filme estrangeiro, os olhares estão ainda mais voltados para a produção latina. A América do Sul está em peso – 10 longas sul-americanos foram inscritos. Alguns filmes tentam a vaga amparados em bom público “em casa” ou boas críticas fora dela – ou as duas coisas. É o caso do argentino El ángel, de Luis Ortega, que bateu recordes de público em seu país. A Argentina já tem dois Oscars na categoria de filme estrangeiro (A história oficial, conquistado em 1986, e O segredo dos seus olhos, em 2010).

 

Globo Minas/Divulgação
Jesuíta Barbosa e Bruna Linzmeyer estão no elenco de 'O grande circo místico' (foto: Globo Minas/Divulgação)
 

 

O colombiano Pássaros de verão tem como diretor Ciro Guerra, o mesmo de O abraço da serpente (2015), primeira produção daquele país a ser indicada ao Oscar. E o uruguaio Uma noite de 12 anos, de Álvaro Brechner, além de ser um ótimo filme, tem o apelo de contar a história do período em que o ex-presidente José “Pepe” Mujica esteve preso.

Mas, vale lembrar, o funil é enorme. E um latino do Norte, o mexicano Roma, do oscarizado Alfonso Cuarón (Gravidade) é hoje considerado favorito não apenas a uma das vagas, mas à própria estatueta. Roma venceu o Festival de Veneza com uma aclamação tão forte por parte da crítica que abafou os questionamentos de isenção do júri, presidido pelo também mexicano Guillermo Del Toro, amigo de Cuarón. O longa é uma produção da Netflix, que vem tentando, nos últimos anos, furar o bloqueio entre o streaming e as salas de cinema nas premiações de cinema.

Neste ano, houve algumas mudanças nas regras do Oscar. Uma delas interfere diretamente nos concorrentes a filme estrangeiro. Estúdios e distribuidoras não podem mais promover inúmeras sessões com a presença de diretores e elenco como parte da campanha promocional. Agora, quatro é o número máximo de sessões permitidas. Diferentemente de outras categorias, nem todos os membros da Academia são obrigados a votar. Participam somente aqueles que se comprometerem a assistir a pelo menos 12 filmes participantes. Por isso, as sessões de promoção dos filmes são tão importantes.

• Argentina
El ángel, de Luis Ortega

Produzido por Pedro Almodóvar, o longa bateu recordes de público nos cinemas argentinos. A narrativa é inspirada na história de um famoso assassino em série que atuou em Buenos Aires na década de 1970. Carlitos (Lorenzo Ferro) e Ramon (Chino Darín, filho de Ricardo Darín) se conhecem na adolescência e embarcam em uma jornada de terror. O personagem que inspirou o filme é Carlos Robledo Puch, preso há 45 anos, a mais longa  detenção no país. Ele confessou ter cometido 11 assassinatos na juventude, além de roubos e sequestros.

• Bolívia
Muralla, de Rodrigo “Gory” Patiño

Nesse drama, Jorge “Muralla” Rivera (Fernando Arze) foi um goleiro famoso na década de 1990. Depois da fama, ele se converteu em motorista de ônibus, embora tenha alcoolismo. Quando seu filho adoece, ele vê apenas uma solução para financiar o tratamento: negociar uma garota numa rede de tráfico de pessoas. Mas a cirurgia do menino não dá certo, e Muralla tenta se redimir partindo em busca da garota que ele vendeu.

• Brasil
O grande circo místico, de Cacá Diegues

Com estreia no circuito comercial em 15 de novembro, o novo filme do veterano cineasta é sua sétima produção a tentar uma vaga no Oscar. Inspirado no poema de Jorge de Lima, o filme evoca Federico Fellini numa história do apogeu e decadência de um circo e também a de uma família. Lançado em maio no Festival de Cannes, o longa traz no elenco Jesuíta Barbosa, Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Juliano Cazarré, Antônio Fagundes e Vincent Cassel.

• Chile
…E de repente o amanhecer, de Silvio Caiozzi

Vencedor do prêmio do público no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, em julho, o filme do veterano diretor de cinema e TV acompanha o reencontro de um escritor com seu passado. Pancho Veloso (Julio Jung) retorna ao vilarejo natal, na remota Patagônia chilena, 45 anos depois de ter deixado o lugar, onde tentará escrever contos “vendáveis” sobre a região. Mas a volta provoca nele impactos imprevistos.

• Colômbia
Pássaros de verão, de Cristina Gallego e Ciro Guerra

Conhecido por O abraço da serpente (2015), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, Ciro Guerra se uniu a Cristina Gallego para contar uma história sobre o tráfico de drogas nos anos 1980. Plantadores de café colombianos decidem cultivar maconha, enriquecem e acabam se destruindo, vítimas de suas próprias ambições. Os pássaros do título eram os aviões de transporte de maconha para os americanos.

• Equador
A son of man, de Jamaicanoproblem e Pablo Aguero

Jamaicanoproblem é o apelido do produtor, aqui estreando na direção, Luis Felipe Fernández-Salvador y Campadónico. Para a empreitada, ele se uniu ao diretor argentino Pablo Aguero. O longa foi rodado na selva e em outras locações do Equador (não há nenhuma cena se estúdio). A narrativa, inspirada numa história real, fala sobre uma dinastia de exploradores que foram enviados para o território inca pela Coroa espanhola após a descoberta das Américas.

 

Imovision/Divulgação
As herdeiras, de Marcelo Martinessi, é o representante do Paraguai (foto: Imovision/Divulgação)
 

 

• Paraguai
As herdeiras, de Marcelo Martinessi

Vencedor de uma série de prêmios (em festivais diversos, de Berlim a Gramado) e exibido recentemente no Brasil, o longa de estreia de Martinessi acompanha a decadência da classe burguesa de Assunção a partir da história das senhoras Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarita Irun), que formam um casal há três décadas. Depois de vender móveis e objetos por causa da crise econômica, Chela passa por transformação após sua companheira ser presa por sonegação fiscal. A mulher, que até então vivia recolhida, começa a trabalhar como motorista particular para senhoras de idade.

• Peru
Wiñaypacha , de Óscar Catacora

Primeiro filme falado em aymara – língua dos povos indígenas andinos de mesmo nome – o longa conta a história de um casal idoso que vive nas montanhas. Abandonados pelo filho, passam o tempo à espera do retorno dele. Os dois mantêm os costumes religiosos de seu povo, de respeito máximo com a natureza. O filme marca a estreia de Catacora na direção de longas.

• Uruguai
Uma noite de 12 anos, de Álvaro Brechner

Em cartaz no Cine Belas Artes, em BH, o longa estreou no Festival de Veneza, que contou com a presença do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica. Brechner conta como Mujica (Antonio de la Torre) e seus companheiros tupamaros Mauricio Rosencof (Chino Darín) e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso Tort) conseguiram sobreviver ao longo período que passaram como “reféns” da ditadura – presos em isolamento e torturados sistematicamente. O filme se baseia no livro de memórias de Rosencof.

• Venezuela
A família, de Gustavo Rondón Córdova

Outro estreante em longas-metragens, Córdova analisa a relação entre um pai e seu filho em um bairro violento de Caracas. Andrés (Giovanni García) e o filho Pedro (Reggie Reyes) quase nunca se veem. Enquanto o pai passa o dia no trabalho, Pedro aprende a se virar nas ruas. Só que uma briga com outro garoto acaba mudando sua vida, pois Andrés decide fugir com o filho da região onde sempre viveram.

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