Depois de Casa grande (2014) e Gabriel e a montanha (2017), o diretor Fellipe Barbosa realizou outro projeto que aborda questões políticas e sociais do Brasil. No entanto, a realidade da família burguesa e as relações sociais abordadas em Domingo, seu novo longa, ganham outro sentido e dimensão por causa da atual polarização política do país. Codirigido por Clara Linhart, o filme está sendo apresentado esta semana em Paris, depois de ser exibido em Veneza e abrir o Festival de Brasília.
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Na França, Fellipe Barbosa afirmou que os artistas brasileiros sentem medo diante a possibilidade de que o candidato de extrema-direita vença o segundo turno das eleições. “Agora é a esquerda quem teme”, disse o diretor, referindo-se ao temor da família rica apresentada em Domingo. E os artistas, muitos deles já mobilizados contra o governo do conservador Michel Temer, acusado de dar as costas à cultura, também “sentem medo”. “Porque Bolsonaro nos vê como inimigos do Estado, vagabundos que não fazem nada”, explica o cineasta. Bolsonaro já defendeu que o Ministério da Cultura deverá, em um eventual governo seu, ser rebaixado para a categoria de secretaria.
Em entrevista à revista Variety, a diretora Clara Linhart declarou que, naquela época, havia o receio da classe alta de que o país se tornaria um regime comunista, o que não se provou correto. “O governo de Lula foi muito bom para as classes mais altas. Ele foi conciliador e o Brasil experimentou um grande crescimento econômico durante seu governo.
Para Fellipe, o triunfo da extrema-direita no domingo se deve em parte ao desejo de “vingança da burguesia” em relação aos governos de Lula e Dilma Rousseff e aos escândalos de corrupção. “No Brasil, há um ódio entre as classes e um dos seus motores é a vingança”, afirmou Fellipe. “Isso nos remete a uma época muito sinistra”, acrescenta, aludindo ao regime militar (1964-1985). Quando questionado sobre sua vida, já que nasceu em uma família rica, ele diz que a burguesia brasileira precisa ser retratada e ao mesmo tempo é uma necessidade de se confrontar. “É, de certa forma, um exercício de culpa”, explicou.