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'Os invisíveis' mostra judeus que resistiram à perseguição nazista


Entre os filmes que abordam a ascensão do nazismo na Alemanha e o Holocausto, Os invisíveis, que estreia nesta quinta-feira (4) em Belo Horizonte, propõe um ângulo incomum. O interesse do diretor Claus Räfle é por aqueles que desafiaram a determinação de Hitler de ter uma “Berlim livre de judeus”, passando a viver clandestinamente na capital alemã, de outubro de 1941 até o fim da Segunda Guerra Mundial. Estima-se que 7 mil judeus tenham permanecido na cidade, 1.500 sobreviveram à perseguição nazista e aos bombardeios aliados. Os invisíveis conta a história de quatro deles.

Räfle optou por um formato híbrido para construir a narrativa. Os quatro sobreviventes dão depoimentos sobre sua saga, falando diretamente para a câmera e enquadrados em plano fechado, num cenário único e imóvel, ao estilo dos documentários de entrevista. No entanto, seus relatos são intercalados por uma encenação feita por atores, na porção do longa que é em tudo semelhante a um filme ficcional de época. Nesse trecho, o diretor insere ainda imagens documentais de arquivo, portanto, em preto e branco.

As constantes quebras narrativas do longa poderiam facilmente afastar o interesse do espectador ou aborrecê-lo. A força das histórias, no entanto, evita esse distanciamento.


Os “invisíveis” que o título anuncia são duas garotas – uma que tingiu os cabelos de louro para se disfarçar e outra que acabou conseguindo emprego como empregada e babá na casa de um oficial do regime – e dois rapazes – um estudante de artes que empregou suas habilidades na confecção de passaportes falsos e um adolescente que chegou a ser capturado, mas conseguiu escapar.

Vistas em conjunto, as memórias dos quatro compõem um painel da complexidade da vida na clandestinidade numa Berlim sob ataque.
Como a comida era insuficiente, a sensação de fome era uma constante para quase todos, assim como a rotina de noites de inverno passadas em intermináveis perambulações pelas ruas desertas da cidade, na falta de um lugar para dormir.

Apesar da escassez de suprimentos ou talvez exatamente por causa dela, havia também um agitado mercado negro no qual se negociavam cupons de alimentação, o que deu a um dos “invisíveis” a chance de fazer dinheiro suficiente para comprar um barco. O medo de ser reconhecido na rua, não somente por alemães que pudessem delatá-los, mas também pela garota judia que se tornara informante da Gestapo, era outra constante. O afastamento da família e a incerteza sobre o destino dos parentes é uma das maiores fontes de angústia, numa rotina em que o medo e a desconfiança eram as emoções dominantes.

“Quero viver” é o subtítulo do longa, e a pergunta que Räfle parece se fazer com esse filme é: de onde vem essa gula pela vida, que se mantém mesmo nas circunstâncias mais difíceis? Os invisíveis não dá uma resposta acabada para isso, mas oferece uma pista no trecho final dos depoimentos, quando os entrevistados tentam conter as lágrimas ao falar sobre a incompreensível motivação do Holocausto, mas se emocionam muito mais ao descrever os atos daqueles alemães que, arriscando a própria vida, os protegeram e os ajudaram a sobreviver..