O período em que se estabeleceu no México foi marcado por efervescente criatividade. Um recorte desta fase em sua trajetória entra em cartaz a partir desta sexta (28), no Cine Humberto Mauro. A programação conta com 19 filmes produzidos entre 1946 e 1965, incluindo clássicos como O anjo exterminador (1962).
“A carreira mexicana, com todas as dificuldades técnicas, falta de recursos e adversidades próprias de uma condição à margem dos grandes estúdios mundiais, foi uma escola perfeita para que ele vivesse sua fase áurea”, afirma Bruno Hilário, curador da mostra. “O período, de tão bem-sucedido, lhe permitiu retornar à Europa anos depois, alcançar a mise-en-scène perfeita e a maturidade que vemos em A bela da tarde”, diz Hilário, em referência a uma das mais célebres e sensuais produções de Buñuel, feita na França, em 1967, com Catherine Deneuve no papel principal.
Títulos como esse, apesar de cultuados, ficaram de fora da seleção.
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Ainda sobre o caráter plural da obra de Luis Buñuel, Hilário cita que há filmes pretensiosos, baseados em clássicos da literatura – caso de Robinson Crusoé (1954), adaptação do romance homônimo de Daniel Defoe, e Escravos do rancor (1954), releitura de O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Há também dramas marcados por questões políticas e denúncia da desigualdade social nos países subdesenvolvidos. E, por fim, exemplos de comédias e produções menos densas. “Na mostra, será possível ver um outro Buñuel, não só o contestador.”
“Os esquecidos tem uma importância muito grande, por ser o primeiro grande filme feito por ele no México. Os trabalhos anteriores – Gran Casino (1947) e O grande pândego (1949) – não tiveram grande recepção se comparados à repercussão imediata conquistada por esse filme.
Ainda no México, após Os esquecidos vieram Susana, mulher diabólica (1951), A ilusão viaja de bonde (1954), Nazarin (1959), entre outros. Já de volta à Europa, recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro por O discreto charme da burguesia (1972). Também disputou a estatueta com Tristana, uma paixão mórbida (1970) e Esse obscuro objeto do desejo (1977), seu último filme. Buñuel morreu aos 83 anos, na Cidade do México.
ERRANTE Segundo Luiz Nazario, professor do Departamento de Cinema da UFMG, a itinerância de Luis Buñuel imprimiu à sua filmografia uma rica diversidade cultural. “Era um cineasta errante”, define Nazario. “Em cada país em que ambientou seus filmes, reunia características da cultura local, o que é notado, especialmente, na França e no México.”
Para o professor, a fidelidade ao movimento artístico que ajudou a definir é a principal marca do legado de Buñuel. “Foi praticamente o único cineasta surrealista na história do cinema. Seu imaginário e estética sempre estiveram ligados ao movimento francês. Seus filmes produzidos na França são puramente surrealistas, enquanto que, no México, fez melodramas populares, mais realistas, mas, ainda assim, com elementos surrealistas inseridos.”
Como exemplos dessa seara, Nazario cita O anjo exterminador (1962) e Simão do deserto (1965). O mais representativo do período, na opinião do professor, é O rio e a morte (1964), que abarca tanto a estética surrealista quanto o interesse do diretor pelos costumes mexicanos.
Confira os filmes deste fim de semana no Cine Humberto Mauro:
>> Sexta-feira (28/9)
16h: Gran casino (1947)
18h: O grande pândego (1949)
>> Sábado (29/9)
20h: Os esquecidos (1950)
>> Domingo (30/9)
16h: Susana, mulher diabólica (1951)
18h: A filha do engano (1951)
20h: Subida ao céu (1952)
MOSTRA 'BUÑUEL NO MÉXICO'
Até 18 de outubro. Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400. Entrada franca. A programação completa está disponível no site www.fcs.mg.gov.br.
ESPANHA NO MIS
Ao longo desta semana, o país de origem de Luis Buñuel esteve em cartaz no MIS Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza) com a 15ª Mostra de Cinema Atual Espanhol. A programação chega ao fim nesta sexta (28), com exibição dos dramas A noiva (2015), de Paula Ortiz, às 17h, e A colmeia (1982), de Mario Camus, às 19h – este, inclusive, ambientado no pós-Guerra Civil Espanhola. Entrada franca, com retirada de ingressos 30 minutos antes de cada sessão.