Quando uma problemática adolescente desaparece, seu pai não mede esforços para desvendar o paradeiro da jovem. Ainda que a premissa não seja das mais inventivas, Buscando..., que estreia nesta quinta (20), é criativo na forma de contar essa história. Toda a narrativa se passa em telas de computadores, smartfones e equipamentos digitais, evocando a onipresença desses dispositivos na vida contemporânea. No que pode ser definido como um “thriller on-line”, que exibe boa dose de surpresas, além da tensão, o diretor indiano Aneesh Chaganty faz de sua estreia em longas-metragens um grande acerto.
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Em meio ao suspense que se instaura na trama, há leves doses de humor, quando se evidencia o que os personagens secundários fingem ser nas mídias sociais e aquilo que eles realmente são. Há espaço, também, para uma crítica às especulações e teorias de conspiração que pipocam na rede quando crimes se tornam populares e intrigam a opinião pública. A exposição na mídia do desaparecimento de Margot inspira o engajamento de internautas, solidários à dor de Kim, mas também dá margem a postagens maliciosas e acusações infundadas.
INEDITISMO Não é a primeira vez que um longa-metragem transcorre inteiramente em meio digital. Foi essa a base do terror Amizade desfeita (2015), em que uma adolescente suicida assombra os ex-colegas em uma ligação por Skype. A proposta, desenvolvida sem grandes nuances, desapontou a crítica e resultou em um filme pouco célebre. Já Buscando..., de tão assertivo e competente, nos faz acreditar que a premissa é totalmente inédita.
Um de seus maiores feitos é a capacidade do diretor em dispor ações recorrentes em meio digital como técnicas narrativas. Fotos e vídeos antigos visualizados na tela de um computador funcionam como flashbacks. O filme dispensa o desempenho dramático dos atores em dadas cenas, já que os sentimentos podem ser notados, por exemplo, com uma mensagem digitada que o personagem desiste de enviar.
Por meio de notícias em portais e vídeos no YouTube, conhecemos o passado e o renome da detetive Rosemary Vick (Debra Messing). Na web, ela pode ser vista numa condecoração solene ou à frente de um trabalho voluntário com ex-presidiários. A personagem, que ajuda o pai na busca por Margot, revela um ótimo trabalho da atriz Debra Messing, conhecida por papéis cômicos no cinema e na TV – seu maior sucesso é a protagonista da série Will & Grace.
REITERAÇÃO Ainda que competente na execução da proposta, o filme não escapa de alguns deslizes. Certas passagens – em especial, as conversas entre pai e filha no Messenger – soam muito explicativas e pouco naturais. Há, vez ou outra, uma reiteração de fatos e sentimentos que não correspondem a um diálogo entre conhecidos na internet, marcado por maior fluidez e praticidade.
É certo que Buscando... tem potencial para estabelecer rapidamente empatia com quem domina o meio digital e usuários assíduos de redes sociais. Um público pouco familiarizado com esse universo, contudo, poderá se perder em meio à infinidade de sites, plataformas e recursos utilizados pelos personagens. Mas o filme, até certo ponto, tenta ser didático. Ainda que o espectador assista, a todo momento, ao que se passa na tela de um aparato digital, um zoom vai sempre destacar o que é mais importante. A trilha sonora também reitera os auges de tensão do personagem principal.
O protagonista se comunica principalmente por chamadas de vídeo, o que impede que o filme fique restrito às mensagens de texto, postagens e buscas na web. A saída permite que Buscando... escape de ser enfadonho. No desfecho – surpreendente –, o longa leva a crer que, se o ciberespaço cria um problema, também abriga a solução. Ainda que falacioso, o pressuposto se mostra verossímil dentro de um universo em que tudo fica registrado e pequenos deslizes podem revelar grandes mentiras.
O mesmo ambiente que desencadeou o desaparecimento da jovem reúne indícios que, conectados, ajudarão o pai e o espectador a solucionar o mistério. Basta saber procurar.
Assista ao trailer: