Quando uma problemática adolescente desaparece, seu pai não mede esforços para desvendar o paradeiro da jovem. Ainda que a premissa não seja das mais inventivas, Buscando..., que estreia nesta quinta (20), é criativo na forma de contar essa história. Toda a narrativa se passa em telas de computadores, smartfones e equipamentos digitais, evocando a onipresença desses dispositivos na vida contemporânea. No que pode ser definido como um “thriller on-line”, que exibe boa dose de surpresas, além da tensão, o diretor indiano Aneesh Chaganty faz de sua estreia em longas-metragens um grande acerto.
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Documentário com Dilma abre o Festival de Cinema de BrasíliaViola Davis se arrepende de papel que lhe rendeu indicação ao Oscar 'Se não houver interpretações equivocadas, terei falhado', diz Daniela Thomas'O Paciente' reconstitui dias finais de Tancredo Neves às vésperas da posseMarvel divulga participação de Stan Lee em 'Homem-Formiga e a Vespa'Em meio ao suspense que se instaura na trama, há leves doses de humor, quando se evidencia o que os personagens secundários fingem ser nas mídias sociais e aquilo que eles realmente são. Há espaço, também, para uma crítica às especulações e teorias de conspiração que pipocam na rede quando crimes se tornam populares e intrigam a opinião pública. A exposição na mídia do desaparecimento de Margot inspira o engajamento de internautas, solidários à dor de Kim, mas também dá margem a postagens maliciosas e acusações infundadas.
INEDITISMO Não é a primeira vez que um longa-metragem transcorre inteiramente em meio digital. Foi essa a base do terror Amizade desfeita (2015), em que uma adolescente suicida assombra os ex-colegas em uma ligação por Skype. A proposta, desenvolvida sem grandes nuances, desapontou a crítica e resultou em um filme pouco célebre. Já Buscando..., de tão assertivo e competente, nos faz acreditar que a premissa é totalmente inédita.
Um de seus maiores feitos é a capacidade do diretor em dispor ações recorrentes em meio digital como técnicas narrativas. Fotos e vídeos antigos visualizados na tela de um computador funcionam como flashbacks.
Por meio de notícias em portais e vídeos no YouTube, conhecemos o passado e o renome da detetive Rosemary Vick (Debra Messing). Na web, ela pode ser vista numa condecoração solene ou à frente de um trabalho voluntário com ex-presidiários. A personagem, que ajuda o pai na busca por Margot, revela um ótimo trabalho da atriz Debra Messing, conhecida por papéis cômicos no cinema e na TV – seu maior sucesso é a protagonista da série Will & Grace.
REITERAÇÃO Ainda que competente na execução da proposta, o filme não escapa de alguns deslizes. Certas passagens – em especial, as conversas entre pai e filha no Messenger – soam muito explicativas e pouco naturais. Há, vez ou outra, uma reiteração de fatos e sentimentos que não correspondem a um diálogo entre conhecidos na internet, marcado por maior fluidez e praticidade.
É certo que Buscando... tem potencial para estabelecer rapidamente empatia com quem domina o meio digital e usuários assíduos de redes sociais. Um público pouco familiarizado com esse universo, contudo, poderá se perder em meio à infinidade de sites, plataformas e recursos utilizados pelos personagens. Mas o filme, até certo ponto, tenta ser didático.
O protagonista se comunica principalmente por chamadas de vídeo, o que impede que o filme fique restrito às mensagens de texto, postagens e buscas na web. A saída permite que Buscando... escape de ser enfadonho. No desfecho – surpreendente –, o longa leva a crer que, se o ciberespaço cria um problema, também abriga a solução. Ainda que falacioso, o pressuposto se mostra verossímil dentro de um universo em que tudo fica registrado e pequenos deslizes podem revelar grandes mentiras.
O mesmo ambiente que desencadeou o desaparecimento da jovem reúne indícios que, conectados, ajudarão o pai e o espectador a solucionar o mistério. Basta saber procurar.
Assista ao trailer: