

O anúncio do vencedor do Leão de Ouro ocorreu na noite de sábado (8). Foi a primeira vez que uma produção da Netflix ganhou a estatueta. A Associação Nacional de Autores Cinematográficos (Anac), a Federação Italiana de Cinema de Ensaio (FICE) e a Associação Católica de Cinema (Acec) disseram ser “injusto” que o maior prêmio do festival seja “um veículo de marketing da plataforma Netflix”, a qual “coloca em dificuldade o sistema de salas de cinema”.
Em comunicado, as associações afirmaram: “O Leão de Ouro, símbolo do Festival de Veneza, sempre financiado por recursos públicos, é um patrimônio dos espectadores italianos: o filme deveria estar acessível a todos, nas salas de cinema, e não exclusivamente aos assinantes da plataforma americana”.
“Rejeitamos a escolha de ter inserido no concurso de Veneza alguns filmes não destinados à exibição em sala, diversamente do que fora decidido pelo Festival de Cannes”, ressaltou o texto. Roma foi retirado da competição em Cannes depois que a Netflix não concordou em lançar o filme no circuito de salas francês, exigência dos organizadores da mostra francesa.
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FUTURO
No entanto, Barbera e o presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, defenderam a premiação. “Toda a eventual polêmica sobre essa vitória é efeito de uma nostalgia que não se mede com a realidade da Netflix, a plataforma mais importante. O futuro será entre as salas de cinema e essa nova realidade streaming”, disse Barbera. “Defender o passado hoje significa somente perder oportunidades”, afirmou Baratta.
Cuarón, que dedicou o filme à sua babá indígena, afirmou que Roma fala das pessoas “invisíveis”, aquelas que a sociedade não percebe. O título se refere ao bairro onde Cuarón cresceu na Cidade do México, tendo a doméstica de origem indígena Libo como babá. No filme, a personagem se chama Cleo.
“Libo, este filme é fruto do meu imenso amor por você, por minha família e por meu país, o México”, disse o diretor, emocionado, ao receber o Leão de Ouro. Aplaudido pela crítica como a obra-prima de Cuarón, Roma foi filmado em preto e branco e mescla a biografia no diretor no México dos anos 1970 com os acontecimentos sociais que marcaram o país.
“Os cineastas não dão a voz a ninguém, são os outros que emprestam sua voz. Em meu caso, é mais perverso, porque as diferenças entre classes sociais e raças me parecia algo óbvio. Isso porque não considerava Libo uma mulher, nem uma indígena. Era invisível. Meu filme fala dessa invisibilidade que há no mundo”, afirmou Cuarón em encontro com a imprensa posterior à premiação.
Tanto Cuarón quanto Del Toro evitaram entrar na polêmica sobre o fato de o título ser produzido e distribuído pela gigante de streaming. “A Netflix não é o fim do cinema!”, afirmou Del Toro. (Ansa e AFP)