Alfonso Cuarón vence Festival de Veneza com 'Roma'

Filmado em preto e branco e ambientado nos anos 1970, no México, longa de tom autobiográfico é produzido pela Netflix, que se desentendeu com o Festival de Cannes e retirou o título da mostra francesa

por AFP 08/09/2018 17:34

ALBERTO PIZZOLI/AFP
O diretor Alfonso Cuarón recebe o Leão de Ouro (foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP)

O longa "Roma", do diretor mexicano Alfonso Cuarón, uma produção da Netflix, ganhou o Leão de Ouro de Melhor Filme na 75ª edição do Festival de Cinema de Veneza neste sábado (8).
O júri, presidido por seu compatriota Guillermo del Toro, vencedor do mesmo prêmio no ano passado, reconheceu a obra de tom autobiográfico, que se passa no México dos anos 1970.
"Aqui julgamos a qualidade das obras, independentemente do país de origem ou do nome do diretor", afirmou Del Toro, antes de anunciar a decisão.


Sem celebridades, o filme mais intimista do cineasta mexicano, em preto e branco, se inspira em sua própria família, nos amores e desamores de criados e patrões, constituindo um documento emocionante e comovente sobre as diferenças sociais e raciais de seu país.


Depois do hollywoodiano "Gravidade", vencedor em 2013 de sete prêmios Oscar, Cuarón volta a filmar em espanhol para narrar a América Latina que conhece, onde contrastes sociais convivem em um universo repleto de sentimentos, reflexões e diferenças culturais que se cruzam e se alimentam.


Na lista de favoritos desde o início, "Roma", nome do bairro onde cresceu, recebeu a nota máxima (5) de cinco dos 10 críticos internacionais – os outros cinco lhe deram 4,5 – consultados pela Ciak, a revista oficial da Mostra.


A vitória de Cuarón relança também o debate sobre a Netflix, gigante audiovisual que produziu e distribui o filme, e abre caminho para outro Oscar do diretor mexicano. Realizado com técnicos mexicanos, o longa poderia concorrer como Melhor Filme Estrangeiro em Hollywood, um troféu que o mexicano ainda não tem. "Roma" seria apresentado no Festival de Cannes, em maior, mas um desacordo entre os organizadores de Cannes, que exigem a exibição dos longas no circuito de cinema francês, e a Netflix, que não quis se comprometer com a regra, inviabilizou a participação do longa na mostra francesa.


Cuarón também recebeu, neste sábado, o prêmio SIGNIS da Associação Mundial Católica da Comunicação. Classificado por vários críticos italianos como uma "obra-prima", "épico" e "deslumbrante", o filme é dedicado a Libo, a babá de Cuarón. Sua personagem, a doméstica de origem indígena Cleo, é interpretada magistralmente por Yalitza Aparicio. "Ela foi minha babá na infância e depois se tornou parte da família e nós viramos parte de sua família", afirmou o diretor.

 

 

 

Willem Dafoe vence como ator

O Leão de Prata e o Grande Prêmio do Júri foram para "The Favourite", do grego Yorgos Lanthimos, um filme sobre o poder e as mulheres, baseado em fatos reais, do século 18, na corte da Inglaterra, com três grandes atrizes: Emma Stone, Olivia Colman e Rachel Weisz.


O diretor francês Jacques Audiard, com seu primeiro faroeste "Os Irmãos Sisters", ganhou o prêmio de melhor diretor, com um filme que é uma reflexão sobre a fraternidade estrelado por Joaquin Phoenix, John C. Reilly e Jake Gyllenhaal.

 

A atuação impressionante do americano Willem Dafoe como o pintor Vincent Van Gogh em "At Eternity's Gate" de Julian Schnabel, lhe rendeu o prêmio Volpi de melhor atuação masculina. Entre as mulheres, Olivia Coleman levou o troféu por seu papel em "The Favourite".

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Willem Dafoe foi premiado por sua interpretação de Van Gogh (foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP)

A lendária atriz britânica Vanessa Redgrave ganhou um Leão de Ouro pelo conjunto de sua carreira, bem como o diretor canadense David Cronenberg.


O filme guatemalteco "José", do diretor e roteirista sino-americano Li Cheng, uma chocante história de amor homossexual em uma Guatemala pobre, foi premiado com o "Leão Queer" pela Associação para a Visibilidade do Mundo Homossexual. O prêmio acontece em um momento importante no país, devido ao debate interno provocado por um projeto de lei que demanda o reconhecimento da identidade de gênero da população transexual.


Já o documentário do cineasta sérvio Emir Kusturica sobre a vida do ex-guerrilheiro uruguaio José Mujica, com o título "Pepe, uma vida suprema", uma coprodução argentino-uruguaia, foi premiado pelo Conselho Internacional de Cinema e Televisão da Unesco.

 

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