Crô volta aos cinemas com humor gay livre de preconceitos

Agora divorciado, personagem de Marcelo Serrado busca levar mensagem positiva ao público em 'filme família'

por Pedro Galvão 06/09/2018 08:28

Eny Miranda/divulgação
Pabllo Vittar, Crô e Preta Gil (foto: Eny Miranda/divulgação)
Marcelo Serrado apareceu pela primeira vez no papel do caricato e futuramente milionário mordomo Crô em 2011, na novela Fina estampa, de Aguinaldo Silva, exibida pela Globo. O sucesso foi tamanho que ele ganhou seu próprio longa, dirigido por Bruno Barreto, em 2013.

 

Se o hiato de cinco anos não é tão grande para uma sequência cinematográfica, foi tempo suficiente para o debate sobre a representatividade LGBT na TV e no cinema se tornar bem mais criterioso e os movimentos pelos direitos dessa população mais atuantes diante de uma causa cada vez mais urgente no país.

  

Tanto o ator, que é heterossexual, quanto o personagem – apontado por alguns com uma representação perigosamente estereotipada dos homossexuais – foram alvo de polêmicas, mas voltam à telona nesta quinta-feira (6) com uma proposta familiar, tanto na trama quanto no público-alvo.

No filme Crô em família, originalmente escrita por Aguinaldo Silva, mas com roteiro adaptado por Leandro Soares, Crô está divorciado. Na verdade, as relações amorosas do protagonista estão em segundo plano desta vez. Ainda triste pelo fim do casamento, o ex-mordomo, agora dono de uma concorrida escola de etiqueta e gozando do status de celebridade carioca, é surpreendido pela aparição de um grupo que diz ser sua família. Tonico Pereira é Orlando, o suposto pai, e Arlete Salles, Marinalva, a mãe.

Como o próprio Crô em família compara em uma das cenas, trata-se de uma versão da Família Buscapé, porém vinda do subúrbio carioca para se instalar na mansão luxuosa do protagonista. Os desafios de adaptação dele às novas companhias e aos novos costumes, além da suspeita sobre as reais intenções dessa aproximação, são o pano de fundo para o humor desenvolvido em cena.

“De um modo geral, é  humor gay, que não é contra o gay, mas a favor. É o gay que faz a piada, e não o contrário. É um tipo de humor que trabalhei muito no Vai que cola, que tem essa brincadeira da graça a partir do personagem, e não o contrário”, explica o roteirista, que diz ter uma linguagem mais jovem do que a de Aguinaldo Silva.

A conexão com o programa humorístico exibido pelo Multishow é tão grande que Ferdinando, um dos principais personagens do seriado, interpretado por Marcus Majella, também faz parte do filme. Ele é uma das amizades com que Crô contracena, dividindo as angústias pela convivência com a nova família, mas especialmente despejando no espectador um turbilhão de gírias, piadas e referências ao universo cultural LGBT. Nessa proposta, o ator e dublador Jefferson Schroeder aparece no papel de Geni, melhor amiga e parceira de trabalho de Crô. Figuras midiáticas da atualidade, como as cantoras Jojô Todinho, Preta Gil e Pabllo Vittar, também entram em cena, com participações breves, no papel delas mesmas.

CARICATURA Se no passado Crô foi acusado de ser uma representação pejorativamente caricata dos homossexuais, sobretudo por ser interpretado por um ator hétero, o roteirista garante que houve a preocupação em adequar o personagem a um modelo mais respeitoso. “Sou da visão de que todas as críticas devem ser escutadas, mesmo quando discordamos. Quando alguém diz que alguma coisa está preconceituosa, em vez de dizer que o mundo tá chato, como muitos fazem, prefiro tentar enxergar, porque realmente somos preconceituosos em alguns momentos por questão cultural. Precisamos sempre ter esse ponto de vista, não há uma resposta pronta, é dialético, por isso sempre temos que pensar aquilo de novo”, pondera.

Leandro Soares concorda que o fato de Serrado ser heterossexual impõe um limite de respeito às falas de Crô. “A sexualidade do ator não limita o personagem, mas naturalmente o lugar de fala é diferente. Algumas coisas não podem ser exploradas por ele. Se os textos são para o Paulo Gustavo ou para o Marcus Majella, eles têm liberdade de fala maior para brincar, pois conhecem a dor do preconceito”, argumenta o roteirista.

Em Crô em família, o personagem está focado em se entender com as pessoas que dizem ser parentes e tenta levar uma mensagem positiva, com humor leve e raras conotações sexuais nas cenas. “É um filme para a família toda. Claro que a gente tem um posicionamento a favor das questões LGBT e de gênero, mas não é um filme de militância. O que o filme traz para a família toda é a alegria gay, que inclusive é o significado da palavra em inglês, que depois se tornou termo menos preconceituoso para se referir a quem é homossexual. Então, o filme traduz o universo gay da alegria, da brincadeira, das drag queens, das trans, das divas pop, da Pabllo Vittar, em um contexto em que o Crô tem a oportunidade de discutir e mostrar que família é uma questão de escolha das pessoas que você agrega”, esclarece Leandro Soares.

 

HUMOR Cininha de Paula, diretora do longa, elogia o roteiro e a proposta de Crô em família. “É muito mais fácil fazer algo assim, mais solar, mais divertido, mais bem-humorado. Tenho vasta experiência de falar de família para família e essa é a melhor maneira. Acredito que fui uma pessoa de sorte, pois nesse filme há a representação LGBT, mas não há preconceito, não há colocação ruim ou distorcida sobre o assunto. Por isso, meu momento foi um momento mais livre, mais liberto e relaxado”, revela.

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