

No fim da manhã de 26 de julho de 2006, intensa troca de mensagens tomou conta de um fórum on-line sobre suicídio. Em Porto Alegre, Vinicius Gageiro Marques, de 16 anos, sozinho em casa, tentava acabar com sua vida. Havia colocado no banheiro duas grelhas – a intenção era morrer intoxicado por monóxido de carbono. Ele ia e voltava ao computador, pedindo ajuda aos internautas.
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A morte de Vinicius foi um dos primeiros casos de suicídio assistido via internet no Brasil. Além da tragédia em si, o caso tomou proporções maiores por causa do histórico do adolescente. No mundo virtual, Vinicius era o cantor e compositor Yonlu. Fã de Radiohead, Vitor Ramil e Mutantes, ele deixou uma obra póstuma: 60 canções muito pessoais, em inglês, que foram editadas em disco, Yonlu (2007), pelo selo brasileiro Allegro Discos, e A society in which no tear is shed is inconceivably mediocre (2009), pelo nova-iorquino Luaka Bop, de David Byrne.
Agora essa história chega ao cinema. Yonlu, que estreia nos cines Belas Artes e Ponteio, longa-metragem de Hique Montanari, recupera a história do garoto para além de uma cinebiografia convencional. Mesclando live action e animação, o diretor busca fazer um retrato poético e fragmentado do adolescente Vinicius.
Montanari usou músicas e desenhos do material deixado por ele. Até os diálogos vieram da vida real. Mas o resultado não é realista. Fragmentos da história do menino, em ritmo de videoclipe, vão remontando a tragédia. O ator Thalles Cabral (Vinicius/Yonlu) está quase o tempo todo em cena.
“Contar a história dessa maneira ficou mais verossímil e condizente com o personagem-título”, diz Montanari. Além de recuperar a história de Yonlu 14 anos (e tantas tragédias da internet) depois, o filme, na opinião do diretor, abre espaço para o debate sobre o suicídio. “Tem que se falar sobre isso, bem como o uso indiscriminado da internet. O filme não demoniza a internet, mas o conteúdo com que ela é alimentada.”
Thalles Cabral não só interpreta Yonlu, como canta músicas com ele (em inglês). A ideia foi tornar as duas vozes em uma só. Para o ator, o desafio maior foi interpretar um personagem “sem julgamentos ou qualquer tipo de clichê.”