Com Leandro Hassum, O candidato honesto 2 debocha da classe política

A pouco mais de um mês das eleições, filme satiriza Temer, Bolsonaro e Dilma Rousseff

por Pedro Galvão 30/08/2018 08:00



Paris Filmes/divulgação
Leandro Hassum é novamente João Ernesto, que dessa vez se elege presidente, mas terá Ivan Pires (Cássio Pandolphi) como vice (foto: Paris Filmes/divulgação)
No período eleitoral, popularidade é fator determinante para a disputa nas urnas. No cinema, ela é o alicerce de produções assinadas pelo diretor carioca Roberto Santucci, responsável por algumas das maiores bilheterias brasileiras dos últimos tempos.

Às vésperas de mais uma eleição, estreia hoje O candidato honesto 2, que novamente aposta na coligação do cineasta com o roteirista Paulo Cursino e o ator Leandro Hassum. A “plataforma” é a já conhecida proposta de humor rasteiro e escrachado, com muitos palavrões, além de piadas escatológicas ou politicamente incorretas somadas à sátira à classe política.

A sequência estreia quatro anos depois da história original, em que Hassum encarnava João Ernesto Ribamar – político de origem popular, líder das pesquisas para a Presidência da República, que acaba traído pela própria sinceridade. Acometido de um fenômeno que o faz falar sempre a verdade, ele confessa publicamente ter participado de vários crimes de corrupção e é preso. A nova trama se inicia quando João sai da cadeia e volta aos palanques.

A comédia de Santucci, que recentemente lançou Os farofeiros (segunda maior bilheteria nacional de 2018 até agora), aproveita fatos recentes da política brasileira e figuras-chave desse cenário. A principal é Ivan Pires, com quatro mandatos como vice-presidente. Além do trocadilho no nome, que lembra vampiro, ele mora em uma versão do Castelo do Drácula. A interpretação de Cássio Pandolph é clara referência ao presidente Michel Temer.

Pires é determinante para a nova trajetória de João Ernesto. Primeiro, por convencê-lo a se candidatar novamente, oferecendo apoio de seu poderoso partido, o PLDB, com a condição de ser o vice. Depois, conspira contra ele durante o governo.

No processo eleitoral, o principal adversário de João Ernesto é Pedro Rebento (Anderson Müller), branco, de olhos claros, defensor do combate violento ao crime, da liberação do porte de armas e do embate com minorias e movimentos sociais. Está clara a alusão a Jair Bolsonaro. Ele acaba derrotado e João Ernesto recebe a faixa das mãos da Presidenta, assim identificada, interpretada por Mila Ribeiro.
A humorista é conhecida por imitar a ex-presidente Dilma Rousseff na TV. No longa, Mila reproduz estilo e o jeito de falar da petista, ridicularizando confusões com as palavras nos discursos da mineira. Na cena da posse, ela aconselha João Ernesto: “Abre o olho com teu vice”.

HUMOR Embora as representações tenham doses de crítica, o mineiro André Carreira, produtor da comédia, diz que se trata de caricatura. “Todos os personagens são inspirados em figuras públicas e até na mistura delas. Não é um retrato final, mas caricatura. Procuramos explorar e reforçar características que joguem a favor do humor”, argumenta.

Outra preocupação alegada pelo produtor é a neutralidade do conteúdo, apesar do deboche. “Nossa estratégia, desde o primeiro filme, é uma sátira de toda a cena política e uma crítica geral ao nosso sistema político, sem tomar partido de A ou B. É piada pronta, gostaríamos até de ter mais dificuldade do que tivemos para fazer humor com isso”, afirma.

“A mecânica de O candidato honesto 2 é diferente do primeiro filme”, defende o diretor Roberto Santucci. “O primeiro é baseado em uma pessoa que não sabia mentir, semelhante a O mentiroso, filme do Jim Carrey. No segundo, fomos mais em cima da história política brasileira recente.’’ Nessa proposta, o roteiro resgata fatos reais isolados, como gravações comprometedoras feitas por um grande empresário (chamado Jovelson) e personagens como o Japonês da Federal, mas sem compromisso rigoroso com a representação dos acontecimentos.

A nova saga de João Ernesto é apenas pano de fundo para piadas contra os políticos e para a performance particular de Leandro Hassum. Com nova aparência, o ator exibe o mesmo exagero na atuação cheia de gritos e linguagem chula de Até que a sorte nos separe.

AQUARIUS O próprio artista é alvo de ironia: “Leandro Hassum perdeu a graça depois que emagreceu”, diz o personagem. Na mesma cena, em que o assunto é o cinema nacional, são dedicados quase cinco minutos para debochar da produção brasileira. Enquanto a curadora da sala de cinema do Palácio da Alvorada descreve um filme ambientado no Recife cujo enredo tem a ver com temas sociais, o personagem de Hassum cai no sono. A descrição lembra os longas premiados Aquarius e O som ao redor, do pernambucano Kleber Mendonça Filho.

Santucci diz que se trata de “crítica ao cinema nacional em geral. Falamos um pouco de nós mesmos, às vezes da comédia, às vezes de outros gêneros. Procuramos olhar para tudo”. Em meio ao deboche, há também ponderações mais sóbrias sobre o sistema político brasileiro, com falas pontuais de alguns personagens.

 

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