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'Meu ex é um espião' brinca com os filmes de espionagem, com tiradas bem-humoradas sobre o empoderamento feminino

O fim de relacionamentos costuma ser bom ponto de partida para dramas e romances, dada a emoção provocada por ex-amores. Ainda que o título sugira algo nesta seara, o filme Meu ex é um espião, que estreia hoje nas salas brasileiras, não se prende à antiga paixão da protagonista – aliás, o “ex” sai de cena logo no final do primeiro ato. Dirigida por Susanna Fogel, esta é uma história de ação intercalada com boas doses de humor.

Audrey (Mila Kunis) está desolada porque Drew (Justin Threoux) terminou repentinamente o namoro com ela, por mensagem de texto. Ao lado da amiga Morgan (Kate McKinnon), mergulha em perigosa trama quando o ex ressurge, fugindo de uma rede de assassinos, e a encarrega de levar um valioso troféu até Viena, na Áustria. Enquanto a missão não for concluída, ela, a amiga e outros inocentes correm risco de morte.

A premissa é inventiva, mas pouco crível. Sem qualquer familiaridade com o serviço secreto, Audrey e Morgan partem para a Europa. Uma sucessão de erros faz a dupla circular por Paris, Praga e Berlim, o que rende à produção ótimos takes – além de exigir grande orçamento. No encalço delas está Sebastian (Sam Heughan), agente britânico tão suspeito quanto sedutor.

O título original, The spy who dumped me (O espião que me deu um fora, em tradução literal), remete ao clássico 007 – O espião que me amava, de 1977. Assinado pela diretora Susana Fogel e por David Iserson, o roteiro faz espirituosas menções ao empoderamento feminino e a temas contemporâneos, como veganismo e aplicativos de transporte.
Até Edward Snowden, ex-analista de sistemas que divulgou detalhes da atuação de agências de vigilância norte-americanos, aparece (em uma imitação) para ajudar Audrey e Morgan na empreitada.

 

 

 

BESTEIROL

Mila Kunis e Kate McKinnon têm química, são engraçadas e rendem ótimos momentos. Por várias vezes, a comédia descamba para o besteirol – o que não é demérito, dada a competência e o time das atrizes. É divertido acompanhar esta dupla sem a menor vocação para o serviço secreto. Durante uma perseguição de carro, Audrey chega a usar as setas de direção, sinalizando aos perseguidores o caminho que vai percorrer. Kunis está bem como a atendente de supermercado, que nem sequer sabe mentir, mas acaba na mira de uma quadrilha e enfrenta perseguições, tiroteios e outros percalços.

Porém, é McKinnon quem rouba a cena no papel da amiga irreverente – tão comum em comédias. Por meio dessa personagem, o filme brinca com o feminismo, mas sem depreciar o movimento. Em sua primeira cena, Morgan tenta dar uma lição em um grosseiro machista que a aborda no balcão de bar. Em outra boa sequência, ela aposta na sororidade para que desconhecidas lhes emprestem passaportes que permitirão o embarque ilegal dela e de Audrey para outro país.

Outro bom momento é quando descobre que a organização secreta que as persegue é chefiada por uma mulher (Gillian Anderson) – alvo, até então, de sua veneração.

Se o humor é competente, Meu ex é um espião fica devendo na ação, com narrativa que peca pela previsibilidade e momentos inverossímeis. Desde o trailer, fica evidente: as passagens cômicas foram priorizadas em detrimento de uma história coesa e bem-acabada. A favor, pode-se dizer que o longa é despretensioso e, possivelmente, também não será levado a sério pelos espectadores. Afinal, não rende mais que algumas risadas.

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