O pitoresco sequestro de anões de jardins dá o pontapé inicial de Outra história do mundo, que estreou quinta-feira em Belo Horizonte, e ganhou o prêmio de melhor coprodução internacional do 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo – tem participação de Brasil, Uruguai e Argentina. Em uma pequena cidade uruguaia sob os efeitos da ditadura, dois amigos, Milo Striga (Roberto Suarez) e Gregorio Esnal (César Troncoso), resolvem zombar de um irritado militar, sequestrando seu bem mais precioso. A aventura dá errado e as consequências são cruéis para a dupla: Milo desaparece sem deixar rastros, enquanto Esnal sofre isolado. É quando o personagem de César tem uma ideia para tentar manter viva a lembrança de Striga: dar aulas de história universal no clube social da cidade, mas à sua maneira. “Além do enredo ser ótimo, que são esses dois amigos achando que vão fazer uma revolução ao roubar os anõezinhos, o longa tem como pano de fundo a ditadura. Muitos filmes argentinos e uruguaios que retratam essa época são mais sombrios, às vezes, até cansam. O interessante dessa produção é que o tema é tratado de maneira mais leve, até divertida. É uma comédia política.
É a segunda vez que o ator nascido em Montevidéu trabalha com seu compatriota, o diretor Guillermo Casanova. Os dois estrearam no cinema juntos em El viaje hacia el mar (2003), considerado um dos filmes mais conhecidos e lembrados do cinema uruguaio. César – que, aos 25 anos, deixou a contabilidade de lado e passou a estudar teatro – diz que a principal diferença entre os dois projetos é a experiência. “Agora, já tenho um ofício construído, sei me portar no set e como as coisas funcionam. O Guillermo é da minha geração e a gente tem uma comunicação muito tranquila e clara”, comenta.
A parceria também se estende ao colega Roberto Suarez. Os dois deram os primeiros passos juntos no teatro, estudaram na mesma escola e se apresentaram em todo tipo de lugar nos primórdios da carreira. “Tanto que Guillermo Casanova queria fazer esse filme sobre amizade justamente conosco, por conta de nosso histórico.
BELCHIOR Como se trata de coprodução, Outra história do mundo tem toques brasileiros. O diretor de fotografia é o carioca Gustavo Hadba (Faroeste caboclo, Entre nós), e o elenco conta com o pernambucano Cláudio Jaborandy. A trilha traz Velha roupa colorida na voz de Belchior, que canta versos bem oportunos para o momento vivido pelos protagonistas: “Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo/ Que uma nova mudança em breve vai acontecer/ O que há algum tempo era novo, jovem/ Hoje é antigo/ E precisamos todos rejuvenescer”. “O Guillermo adora Belchior. A música brasileira em geral tem uma presença muito forte no Uruguai. Na época em que fiz O banheiro do papa (2007), muita gente comentou que eu estava parecido com o Belchior por causa do bigode. Agora, isso também se repete por causa do visual desse filme.”
César Troncoso comemora o fato de ter participado de tantas produções no Brasil. Seja novela (Flor do Caribe) e, principalmente, os longas A oeste do fim do mundo, O tempo e o vento, Elis, Faroeste caboclo e O vendedor de sonhos.
O ator comemora a parceria entre o cinema do seu país com outros países latino-americanos, destacando a importância para o fortalecimento da indústria cinematográfica. “O Uruguai praticamente não faz cinema sem coprodução. É muito raro. Apesar da língua diferente – no caso do Brasil – somos todos da mesma matéria, somos irmãos.rmãos..