A história é conhecida: durante anos da década de 1970, Hilda Hilst tentou entrar em contato com os mortos. Numa linha de trabalho desenhada pelo cineasta sueco Friedrich Jurgenson, a poeta usava o ruído branco das ondas de rádio para tentar captar vozes do além.
Em 1979, Hilda apareceu em uma reportagem do Fantástico falando sobre o assunto, mas esse trabalho nunca tinha sido levado a sério. Agora, ele tem a oportunidade de ganhar novas leituras com Hilda Hilst Pede Contato, filme de Gabriela Greeb, que estreia nesta quinta-feira, 26, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Com direção de fotografia de Rui Poças, o filme estreia no circuito comercial na próxima quinta-feira, 2 de agosto.
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''Pensei: vamos inverter o procedimento dela'', diz a diretora, em Paraty. ''Ela, morta, vai falar com os vivos. Queria que o filme a colocasse em contato com o leitor, que foi o que ela sempre quis. Para mim, esse diálogo que ela busca, essa eternidade, é o leitor.''
Com sonoplastia do português Vasco Pimentel - com quem Greeb divide a mesa das 10h da programação principal da Flip nesta quinta - e protagonizado por Luciana Domschke, o filme coloca na atriz a voz original das gravações de Hilda, e coloca diálogos e outros depoimentos. Há 10 anos em produção, o filme chegou a ser rejeitado em 35 editais, segundo a diretora. "Por que no Brasil não tem confiança no autor? Pessoal acha que a gente é maluco", ironiza. Tudo foi filmado na própria Casa do Sol.
O filme também resultou num livro, de mesmo título, lançado na Flip pela Sesi-SP Editora.
Ela pede contato de nomes como Kafka, Clarice Lispector e Wladimir Herzog, mas quase sempre se refere ao 'povo cósmico', expressão de Jurgenson. Para Greeb, mais do que essas curiosidades, o filme cumpre uma função de jogar luz sobre esse material, que talvez de outro jeito não seria conhecido.
Com o crescimento dos estudos acadêmicos sobre Hilda Hilst, pode ser interessante especular como esse material, transcrito pela primeira vez ao papel, pode se encaixar na sua obra literária - multifacetada e exploratória por ela mesma.
''Costumo dizer que Hilda funciona como uma grande engrenagem. No mesmo dia que terminei o filme, quase 10 anos depois de começar, fui abrir um vinho com uma amiga e recebi uma ligação dizendo que ela seria homenageada na Flip'', diz, ainda com dificuldade de acreditar..