'Nos vemos no paraíso' aborda cicatrizes da guerra de forma bem-humorada

Vencedor de cinco prêmios César neste ano, filme estreia nesta quinta-feira, 5/7, nos cines Belas Artes e Ponteio

por Mariana Peixoto 05/07/2018 08:00

 

PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO
(foto: PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)


As cicatrizes de guerra – literais e metafóricas – são o tema de Nos vemos no paraíso, que estreia nesta quinta (5) nos cines Belas Artes e Ponteio, em BH. Vencedor de cinco prêmios César neste ano – direção, figurino, roteiro adaptado, fotografia e cenário –, o filme dirigido, roteirizado e protagonizado por Albert Dupontel trata de uma questão pesada de forma bem-humorada, quase fabulatória.

A comédia dramática é uma adaptação do romance Au revoir là-haut (sem edição brasileira), vencedor do prêmio Goncourt em 2013, de Pierre Lemaitre. Em novembro de 1918, poucos dias antes do Armistício de Compiègne, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, o jovem Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart, visto recentemente em outra produção francesa badalada, 120 batimentos por minuto) salva a vida de Albert Maillard (Dupontel).

Os dois homens não têm nada em comum, a não ser a guerra. Péricourt, de família rica, é um desenhista nato – faz caricaturas dos companheiros de front. Maillard, já chegando à meia-idade, é um contador sem muitas perspectivas. Só que, ao salvar Maillard, Péricourt tem o rosto desfigurado. O homem mais velho se torna seu protetor. Com o fim do conflito, os dois acabam se unindo.

Essa história é contada em flashback pelo próprio Maillard. A narrativa tem início em novembro de 1920. Numa delegacia no Marrocos, o contador tem as algemas retiradas, enquanto começa a prestar seu depoimento, que vai recuperar toda a história dos dois últimos anos.

 

 

 

Na Paris do pós-guerra, Péricourt e Maillard tentam juntar os cacos em que suas vidas foram transformadas. O jovem usa máscaras para esconder o maxilar destroçado. Fez ao novo amigo somente uma exigência – que mentisse a sua família, dizendo que ele havia morrido. Assume, junto com as máscaras, uma nova identidade.

Para sobreviver, a dupla cria uma maneira de ganhar dinheiro com um memorial aos soldados que morreram em combate. Tentam, ainda, desmascarar o tenente Henri d’Aulnay-Pradelle (Laurent Lafitte). Responsável pela desfiguração de Péricourt, ele vem lucrando muito com os mortos da guerra.

Com esse imbróglio, Nos vemos no paraíso trata de ética, necessidade de sobrevivência, moral, ganância e o papel da guerra. Vítimas de um conflito do qual se viram obrigados a participar, Péricourt e Maillard vão além dos limites, coisa que, em uma situação normal, não fariam.

Ainda que a trama seja bastante simples, sua execução enche os olhos. Cada plano é muito elaborado. Abusando de tomadas aéreas, o filme já encanta com um plano-sequência que mostra o quão pequenos somos em meio a um conflito. A câmera acompanha um vira-latas peregrinando pelo front, até chegar aos personagens. Já na Paris dos anos 1920, assistimos a lugares clássicos da capital francesa em todo o seu esplendor – com destaque para o cabaré Moulin Rouge e o hotel Lutetia.

Dupontel dá um tratamento quase teatral à história. Com personagens propositadamente caricatos – Pradelle é o estereótipo do vilão sem nenhum caráter –, ele, no entanto, consegue dar humanidade a cada um dos envolvidos. Todos têm suas contas a pagar – e a guerra só veio dar ênfase ao melhor e ao pior de cada um. Coincidências – algumas um tanto exageradas – acabam por fazer com que uma série de vidas se cruzem.

 

 

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