Após a morte da esposa, o patriarca abandonou a carreira acadêmica e se refugiou na casa noturna localizada no Centro de São Paulo. A vocação para sofrer por amor foi herdada por seus descendentes: o filho Ângelo (Júlio Andrade), que canta nos palcos a dor de um romance interrompido; a filha Eva (Hermila Guedes), presa por 20 anos após matar em legítima defesa; a neta Celeste (Júlia Konrad), grávida de um namorado infiel; e o neto Ímã (Jaloo), travesti cujo amado não aceita sua condição sexual. Soma-se ao clã Teylor (Seu Jorge), filho adotivo de José, que sonha em ser ator.
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O espectador conhece esses singulares personagens por meio de Odair (Lee Taylor), policial que salva Ímã de um ataque homofóbico e é contratado como segurança do artista. Aos poucos, ele percebe que o passado esconde uma relação entre aqueles familiares e sua mãe, Nádia (Malu Galli), ex-cantora que ficou surda.
Os desencontros entre os personagens centrais de Paraíso perdido são embalados por clássicos da “sofrência”. O talento musical dos atores é bem aproveitado nas cenas em que interpretam canções como Tango para Teresa, de Ângela Maria, Tortura de amor, de Waldick Soriano, e 120...
Ela conta que o longa foi concebido a partir da tristonha Impossível acreditar que perdi você, sucesso de Márcio Greyc na década de 1970. “Ouvindo essa música, imaginei quatro mulheres: uma chorando em frente ao espelho, com um teste de gravidez nas mãos; outra indo se vingar de alguém que lhe fez mal; uma terceira, em coma, com o rosto enfaixado e só os olhos de fora; e uma travesti, que a cantaria”, lembra a cineasta.
Não à toa, portanto, as figuras femininas são aqui o grande destaque, com atrizes que estão à altura do desafio.
Monique conta que, em seu processo criativo, deixa a mente fluir e não traça um fim pré-definido para suas histórias, o que a leva a uma experiência de descoberta semelhante à do espectador. Talvez por isso haja em Paraíso perdido um excesso de tramas e acontecimentos em detrimento de uma exploração mais aprofundada dos dramas individuais de cada personagem. O trunfo da produção é mesmo seu elenco, composto por atores totalmente entregues a personagens tão característicos – mas que escapam da caricatura, graças ao talento e carisma de cada um.
BANDEIRAS Paraíso perdido defende a diversidade sexual e levanta a bandeira do amor livre, valores que se manifestam na postura dos membros da família diante de seus interesses amorosos. Em especial, com o personagem Ímã, que se define como travesti, mas faz questão de ser tratado com pronomes masculinos.
“Para interpretar Ímã, eu queria alguém que tivesse o magnetismo que o próprio nome sugere. Já no roteiro, o personagem era encantador e eu procurava algum ator que passasse esse encanto e, ao mesmo tempo, uma leveza, brejeirice e gaiatice”, diz Monique. Essas características ela foi encontrar no cantor Jaloo, que mostra segurança em sua estreia no cinema. Além de ter o maior número de cenas musicais, o artista paraense se sai bem nas cenas dramáticas.
Embora viva num ambiente familiar harmônico, Ímã sofre agressões físicas na rua e lida com a rejeição de Pedro (Humberto Carrão), que se apaixona por sua versão travestida, mas o despreza quando não está caracterizado como mulher. “Ímã tem paciência com quem apresenta dificuldade em superar essas questões. Isso é o que acho mais bonito no personagem”, comenta Monique.
A produção marca ainda o retorno de Erasmo Carlos à telona. Para dar vida ao chefe do clã, a cineasta pesquisou por atores nas cinco regiões brasileiras e cogitou um convite a José Dumont. “Queria alguém que emprestasse algum tipo de significado àquele patriarca. Quando cheguei ao nome do Erasmo, percebi que ele tinha tudo que eu queria imprimir ao personagem. A escolha me pareceu até óbvia – ele era o ideal, isso estava na minha cara e eu não percebia”, relata a diretora.
Confira o trailer de Paraíso perdido: