Se tempos conturbados na economia e na política do país, como estes, costumam ou pelo deveriam jogar alguma luz em acontecimentos históricos, no Cine Humberto Mauro essa viagem temporal poderá ser feita através do cinema. De quarta-feira (30) até domingo (3), a mostra e seminário 68 e depois vai reunir filmes que dialogam com os 50 anos dos levantes operários e estudantis registrados na França em maio daquele ano e também com outros movimentos ocorridos posteriormente, mas de contexto parecido, em outras partes do mundo e especialmente no Brasil. Com entrada franca e presença de convidados de diferentes áreas, o evento propõe conectar passado e presente através da telona.
A programação inclui 24 títulos, entre longas e curtas. Realizadores e convidados especiais vão comentar as sessões. Na abertura, nesta quarta-feira, às 14h, o adido de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França no Brasil Philippe Makany e o diretor da Aliança Francesa Belo Horizonte Pierre Alfarroba falam sobre o documentário 68, de Patrick Rotman, logo após a exibição. Em seguida, às 17h, será a vez de No intenso agora, de João Moreira Salles, lançado em 2017. O filme recupera imagens outros movimentos importantes dos anos 1960, além do levante estudantil de Paris, como a Primavera de Praga durante a dominação soviética e a China de 1966 sob o regime de Mao Tsé-Tung. O diretor estará presente para debater o filme ao lado do secretário municipal de Cultura Juca Ferreira.
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Na programação, ele destaca ainda O fundo do ar é vermelho (Chris Marker, 1977), que mostra um panorama mundial dos levantes de esquerda dos anos 1960, passando por Cuba, Chile e China, além dos acontecimentos na França. Ainda na ideia de conectar passado e presente, ele cita Morrer aos 30 anos, de Romain Goupil, “um filme sobre o melhor amigo dele e os jovens que tinham 14 anos e entraram nos movimentos estudantis franceses”; e Escolas em luta, de Eduardo Consonni e Tiago Tambelli, “sobre as ocupações das escolas públicas de São Paulo, em 2016, quando percebemos que não eram estudantes burgueses e intelectualizados, como em 1968, então mostra essa diferença”, adianta Rena.
A agenda reserva também espaço para filmes feitos no Brasil durante a ditadura militar ou sobre artistas brasileiros que atuavam na época, como o documentário Torquato Neto – Todas as horas do fim, de Eduardo Ades e Marcus. O clássico Terra em transe, de Glauber Rocha, também estará em cartaz no sábado (2), precedido por Barravento novo, de Éder Santos e Bruce Yonemoto. Pedro Paulo Rocha, filho de Gláuber, estará presente para comentar o filme. Na quinta-feira (31), ele apresenta seu trabalho mais recente: Allepow: War machine, sobre a guerra na Síria.
A presença desses filmes ajuda a fazer o “paralelo entre década de 1960 e dias de hoje”, de acordo com o curador, assim como o curta Lígia, de Nuno Ramos, cuja edição usa falas dos apresentadores do Jornal nacional William Bonner e Renata Vasconcellos durante os noticiários do impeachment de Dilma Rousseff, formando a letra da música de mesmo nome de Tom Jobim, escrita em 1972. “Isso mostra como o passado está no nosso presente. Questões colocadas há 50 anos explicam nossas dificuldades de superar o subdesenvolvimento até hoje”, argumenta.
Embora seja fruto de uma pesquisa desenvolvida desde 2013, a realização da mostra coincidiu com um momento delicado do país, também marcado por levantes e entendimentos complexos. Natacha Rena acredita que os filmes que serão exibidos e debatidos ajudam a contextualizar o momento. “A questão política dessa última semana envolve preço da gasolina e Petrobras. Para nós, é clara uma conexão entre as revoltas de maio de 1968 na França, em grande maioria contra a Guerra do Vietnã, acusando os EUA de uma ação imperialista. Ou seja, aquela insurgência já era anti-imperialista, então temos várias pontes e conexões. No Brasil, já em 1968, a gente tinha uma juventude se mobilizando contra o golpe militar, que também teve forte influência norte-americana. Tratamos conexões, os levantes estudantis de 1968 apresentaram uma nova estética de lutas nas ruas, novo modo de atuar, protagonizado por uma juventude secundarista, não tão organizada via Partido Comunista ou sindicatos clássicos. Isso também foi visto no Brasil em 2013”, compara.
MOSTRA E SEMINÁRIO DE CINEMA 68 E DEPOIS
De hoje (30) e domingo (3/6). No Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537,Centro, (31) 3236-7400). Entrada franca. Informações: www.fcs.mg.gov.br.
Confira a programação
» 30/5 - quarta-feira
» 14h - 68, de Patrick Rotman (sessão comentada)
» 17h - No intenso agora, de João Moreira Salles (sessão comentada)
» 21h - Ociel del toa, de Nicolas Guillén Landrián; Coffea arabiga, de Nicolas Guillén Landrián; 79 primaveras, de Santiago Alvarez; e Now, de Santiago Alvarez
» 31/5 - quinta-feira
» 14h - O Fundo do ar é vermelho, de Chris Marker (sessão comentada)
» 19h30 - Morrer aos 30 anos, de Romain Goupil (sessão comentada)
» 22h - Allepow: War machine, de Pedro Paulo Rocha (sessão apresentada pelo diretor)
» 1º/6 - sexta-feira
» 14h - Contestação, de João Silvério Trevisan; O bravo guerreiro, de Gustavo Dahl (sessão comentada)
» 17h - Projeto 68, de Julia Mariano; Retratos de identificação, de Anita Leandro (sessão comentada)
» 20h - ABC da greve, de Leon Hirzsman (sessão comentada)
» 2/6 - sábado
» 14h - Pan-cinema permanente, de Carlos Nader (sessão comentada)
» 16h30 - Torquato Neto – Todas as horas do fim, de Eduardo Ades e Marcus Fernando (sessão comentada)
» 20h - Barravento novo, de Éder Santos e Bruce Yonemoto; Terra em transe, de Glauber Rocha (sessão comentada)
» 3/6 - domingo
» 14h - Retrato nº 1 – Povo acordado e suas 1000 bandeiras, de Edu Iosche; Desde junho – Ep. 1, de Julia Mariano; Ligia, de Nuno Ramos; Sessão contra-golpe (sessão comentada)
» 16h30 - Operações de garantia da ordem e da lei, de Julia Murat e Miguel A. Ramos (sessão comentada)
» 19h - Escolas em luta, de Eduardo Consonni e Tiago Tambelli (sessão comentada)