Boa parte da contribuição das mulheres para o desenvolvimento da sétima arte foi apagada e, a despeito das sincronicidades na criação, não receberam o devido reconhecimento. Essa lacuna na história do cinema feminino é o foco desta edição do festival Imagem dos povos – Mulheres. Com o slogan “seja como mulheres, faça história”, a mostra tem início nesta terça (29) e segue até 3 de junho no Sesc Palladium. Neste ano, ao celebrar a contribuição feminina, a programação apresenta artistas como a francesa Alice Guy-Blaché (1873-1968), que tem cinemateca dedicada ao conjunto da obra dela com mais de 1 mil filmes.
A curadoria selecionou 43 filmes, que trazem mulheres como diretoras, roteiristas, produtoras ou atrizes em papeis de destaque. A abertura terá exibição de Meu corpo é político (2017), de Alice Riff, hoje às 16h30. A seção será mediada por Luísa Pecora, criadora do site Mulher no cinema (mulhernocinema.com). A mostra promove momento de imersão no trabalho das diretoras Maria Augusta Ramo, Ana Luiza Azevedo, Martha Kiss e a produtora Débora Ivanov.
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Alice é apontada como a primeira autora de ficção no cinema, em 1897. Também é pioneira na abertura do primeiro estúdio de cinema em Nova York.
Para a mostra, foram selecionadas 33 produções da francesa. “A pauta da mulher como protagonista no audiovisual vem aquecida mundialmente e nacionalmente nos últimos dois anos. É uma reivindicação no Brasil e no mundo todo para que as mulheres assumam maior protagonismo. Na verdade, o interesse é que as mulheres possam contar suas histórias, mostrar sua visão das coisas. Ainda tem muito pouca produção feminina no Brasil e no mundo.”
Os trabalhos selecionados pelo Imagem dos povos podem ser vistas tanto no cinema como na internet (www.imagemdospovos.com.br).
A imagem usada como símbolo da mostra é um rosto formado por traços de cinco mulheres: a escritora Carolina de Jesus (1914-1977), a heroína da Revolução Pernambucana Bárbara de Alencar (1760-1832), Patrícia Galvão, a Pagu (1910-1962), a cangaceira Maria Bonita (1911-1938), e a guerreira do povo kaiapó Tuira Kayapó.
A curadora destaca que encontrar produções que promovam a acessibilidade, com legenda descritiva ou audiodescrição foi um desafio. Todos os 43 filmes têm legenda descritiva e foi feita a audiodescrição de Esplendor (2018), da diretora Naomi Kawase. Com essa opção pela diversidade, a mostra ainda pretende fortalecer o audiovisual em Minas. “Imagem dos povos procura fomentar a produção audiovisual mineira. A diversidade traz a possibilidade de as pessoas que vivem em Minas terem sua história contada”, afirma Tâmara.
IMAGEM DOS POVOS – MULHERES
Festival de cinema. De terla-feira (29) a 3 de junho. CineSesc. Sesc Palladium (Av.
Três perguntas para...
Maíz Assumpção
cocuradora
A Alice Guy-Blaché é um exemplo de como o trabalho das mulheres tem sido apagado na história do cinema. Como reverter esse cenário?
Pioneira, Alice virou líder de estúdio muito rápido. Não entendo os motivos pelos quais se perde essa informação e não são dados os créditos a ela. É estranho, mas é comum. Há quatro ou cinco anos, isso tem sido questionado. A mulher não aceita mais não receber os créditos e bate o pé. O momento permite isso.
Como o conceito de diversidade guia o olhar da curadoria?
Procuramos encontrar a fala de todos. Neste ano específico, procuramos os diferentes olhares femininos. Não temos um único olhar feminino. Por exemplo, os quatro documentários são bem diferentes entre si, com linguagens narrativas distintas.
O último levantamento da Ancine mostra lacuna no audiovisual brasileiro da produção de mulheres negras. Como essa questão é pensada por vocês nesta mostra?
Nesta edição, não temos produção de diretora negra na mostra. Foi um grande desafio. Queríamos trazer o Café com canela, da diretora Glenda Nicácio. Mas como está distribuição comercial, não conseguimos. Participará da mostra em momento futuro. O caso do homem errado, de Camila de Moraes, é o primeiro filme de diretora negra entrar no circuito comercial depois de Adélia Sampaio – primeira mulher negra a dirigir longa-metragem no Brasil. Tem muita gente produzindo. Teremos muito filme pronto no final do ano. Um exemplo é Sabrina Rosa, que desenvolve o projeto maravilhoso O poder, mas que, infelizmente, não ficou pronto para participar da mostra. Este é um ano importante para o cinema negro feminino.
Abaixo, confira o trailer de Meu corpo é político: