A câmera de Claire capta a sutileza das relações

A câmera de Claire, de Hong Sang-Soo, foi filmado durante uma estada do diretor sul-coreano num Festival de Cannes

por 26/05/2018 12:00
PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO
Min-Hee Kim e Isabelle Huppert são as protagonistas do longa do sul-coreano Hong Sang-Soo rodado em Cannes (foto: PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)

Eis aí um filme rodado meio que no improviso, mas que, em razão do talento dos envolvidos, ficou um show. A câmera de Claire, de Hong Sang-Soo, foi filmado durante uma estada do diretor sul-coreano num Festival de Cannes e contou com a presença, na cidade, da grande atriz francesa Isabelle Huppert, incorporada ao elenco.

Ela é a Claire do título, mas a história começa de outro jeito e com outras pessoas. Durante uma viagem de trabalho a Cannes, a bela Manhee (Min-Hee Kim) é chamada para uma conversa com sua chefe. Para sua surpresa, Manhee é acusada de desonestidade e, em seguida, despedida. Meio desconsolada, anda pelas ruas e conhece a francesa Claire, que também passeia e tira fotos com sua Polaroid.

Aos poucos, uma história sentimental, feita de ciúmes e rivalidade profissional, vai sendo desvelada – e muito devido ao efeito das fotos que Claire vai tirando dos personagens.

Há um comentário lateral sobre a questão das imagens, das fotos e do próprio cinema. Ao fazer suas imagens e mostrá-las em seguida às pessoas é como se Claire fosse construindo uma narrativa na qual tudo passasse a fazer sentido. Não um significado único, mas um sentido possível. Como se as pessoas, desencontradas, se definissem através das imagens próprias fornecidas pela fotógrafa.

O sul-coreano Sang-Soo tem o timing das peripécias amorosas e um sentido agudo dos diálogos entre os personagens. A naturalidade com que os sentimentos afloram, se afirmam e se contradizem faz de seu cinema algo único no panorama atual. No passado, outros diretores, como François Truffaut e Eric Rohmer, trouxeram com leveza e dignidade as cirandas amorosas para o cinema.

Esse toque de magia agora pertence a Sang-Soo. Seus filmes são deliciosos. Parecem boiar no superficial. Apenas parecem. Como dizia Nietzsche, a profundidade pode ser apenas uma dobra da superfície. (Estadão Conteúdo)

Fantasias femininas em Tully

Em Tully, Marlo (Charlize Theron) é mãe de dois filhos e ganha um novo bebê. Sobrecarregada de tarefas, sem conseguir dormir à noite com o choro da criança, aceita o conselho do irmão rico e contrata uma babá para o período noturno. Tully (Mackenzie Davis) é uma figura curiosa. Tem excesso de energia, mas, ao mesmo tempo, parece dispor de uma sabedoria invulgar para seus 26 anos. Tem gosto pela aventura e é dotada de ousadia mental. Aos poucos, vai ocupando um espaço inesperado na vida de Marlo.

Dirigido por Jason Reitman, Tully é aquele tipo de filme que dá mais do que se espera de início. Traça um panorama interessante (e um tanto aterrador) da depressão pós-parto e das fantasias femininas na entrada da maturidade. O filme é das duas e o universo masculino pouco aparece, a não ser sob o signo da falta e da incompetência. Charlize e Mackenzie brilham e se complementam. Quase demais. Dizem que Charlize, que ama papéis difíceis, engordou 23 quilos para viver a atormentada Marlo.

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