O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que compete pela Palma de Ouro no 71º Festival de Cannes, 50 anos depois de ter interrompido a edição da mostra no histório Maio de 68, não se deslocou até a Croisette para apresentar Le livre de l’image, mas concedeu uma incomum entrevista coletiva pelo celular, após a exibição do longa, considerado inclassificável pela crítica.
Uma das múltiplas referências feitas no filme é à Catalunha, cujo tumultuado projeto de independência da Espanha atingiu um ponto de grande tensão enquanto Godard montava Le livre de l’image. “Acredito que o cinema, tal qual eu o concebo, é como uma pequena Catalunha, que tem problemas para existir”, disse a lenda do cinema francês, de 87 anos, por meio da pequena tela segurada por um produtor de seu filme.
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Na tradicional sala de imprensa, onde as equipes dos filmes em competição no Festival de Cannes falam com os jornalistas, os repórteres foram passando um a um na frente do celular e de um microfone para fazer suas perguntas. Pelo aplicativo FaceTime, o cineasta respondeu a todas elas em uma sessão de cerca de 45 minutos.
Godard respondeu afirmativamente ao ser questionado sobre se pensa em continuar fazendo cinema: “Sim, se conseguir, mas não depende de mim e sim das minhas pernas, muito das minhas mãos e um pouco dos meus olhos”. O diretor apresentou também o que define como a fórmula do cinema: “Quando se faz uma imagem, seja do passado, do presente, ou do futuro, para achar uma terceira, que começa a ser uma verdadeira imagem, ou um verdadeiro som, é preciso suprimir duas. Isto é: x + 3 = 1, essa é a chave do cinema”.
A ausência de Godard na Croisette não é surpresa, já que ele também não foi a Cannes nas duas últimas seleções de que participou, em 2010 e 2014. No total, o cineasta esteve sete vezes na competição oficial. Sua presença neste ano é especialmente simbólica, 50 anos depois de ele ter liderado uma ação de protesto até conseguir interromper a competição, como mostra de solidariedade com o movimento estudantil e operário em Maio de 1968. O cartaz desta 71ª edição homenageia seu filme O demônio das onze horas, de 1965.