O renascimento do parto 2, de Eduardo Chauvet, em cartaz no Cine Belas Artes (às 16h e às 20h), propõe uma reflexão que não diz respeito somente às mamães, mas à sociedade como um todo. O foco da sequência de O renascimento do parto, que contrapôs os riscos da cirurgia cesária eletiva aos benefícios do parto natural, é a violência obstétrica e a urgência de humanização em um dos momentos mais delicados da vida de muitas mulheres.
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Da agonia para a indignação, a cena é seguida por um vídeo que viralizou nas redes sociais em 2016, em que um pai é impedido por uma médica de assistir ao parto da companheira, no Rio de Janeiro. Mesmo lendo em voz alta e na presença de um policial o que determina desde 2005 a Lei do Acompanhante – que obriga as redes pública e privada de saúde a aceitarem um acompanhante da grávida durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato – ele é impedido de ver o nascimento de sua filha. A profissional diz que, para ela, é indiferente o pai assistir ou não ao parto da mulher e alega que o hospital não permite sua entrada, pois ele constrangeria as demais grávidas.
O documentário mostra outros inúmeros exemplos de violência obstétrica: no momento em que vão dar à luz, por exemplo, as mulheres são impedidas de comer ou beber água, mesmo após horas a fio de trabalho de parto; muitas sofrem excessivos e dolorosos exames de toque para aferir a dilatação. O documentário também relata episiotomias (corte pélvico entre vagina e ânus) realizadas sem necessidade e não comunicadas, além de mulheres obrigadas a permanecer deitadas com a barriga para cima, posição que dificulta o parto. Outras são induzidas a fazer o “ponto do marido”, em que se costura a vagina para deixá-la mais estreita e, teoricamente, aumentar o prazer dos homens e muitas mulheres são separadas por horas do filho recém-nascido, que precisa de cuidados maternos imediatos. Humilhadas verbalmente e invadidas fisicamente, a maioria das vezes sem ter consciência disso, mães vítimas de violência obstétrica vivem situações análogas ao estupro, como afirmam os especialistas ouvidos no documentário.
Cesárea
A temática da cesária desnecessária também volta à tona. Em cartazes, mães apresentam os mais diversos e inacreditáveis motivos que ouviram de médicos para tentar justificar o procedimento cirúrgico, que deve ser indicado em casos extremos: gengivite, pernas amputadas, parto pélvico, “saudável demais”, trânsito urbano intenso, “FLA x FLU”. Ter gêmeos também é apontado como um desses motivos. No entanto, a atriz e apresentadora Fernanda Lima, que também participa das filmagens, é prova de que isso não passa de mais um mito.
Além da denúncia, o documentário também comprova que, sim, é possível um parto em que a mãe e filho são respeitados, o parto humanizado. O destaque vai para a Casa de Parto de São Sebastião, no Distrito Federal, assim como é ressaltado o hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. São exemplos de lugares em que profissionais de saúde do SUS atendem com propriedade e carinho. O sistema de saúde inglês também é reverenciado. Lá, a mãe não só é incentivada a ter parto natural nos hospitais, tal qual Kate Middleton, mas recebe auxílio financeiro para ter filhos no calor de suas casas.
Chauvet diz que o filme não foi capaz de mostrar 100% de violência obstétrica, por ser um tema muito forte. “O objetivo não é apresentar a solução, mas sim abrir o debate.” O diretor e roteirista também anunciou que O renascimento do parto 3 chegará aos cinemas em setembro de 2018, fechando, assim, a trilogia. O primeiro filme está disponível nas plataformas NOW, Google Play, Vivo Play e iTunes.