Aos 70 anos, o francês Philippe Garrel não esgotou suas leituras cinematográficas sobre o amor, principal matéria-prima de sua cultuada trajetória fortemente influenciada pela Nouvelle Vague. À sombra de duas mulheres, penúltimo título de sua filmografia iniciada nos anos 1960, que estreou em Cannes há três anos, chega nesta quinta-feira (11) ao circuito de BH. O longa em preto e branco tem como protagonista Stanislas Merhar, no papel de um homem perturbado pela relação adúltera que assumiu.
Seu personagem é Pierre, documentarista que produz filmes de baixo orçamento em parceria com a esposa Manon (Clotilde Courau). O caso extraconjugal surge quando ele se apaixona por Elisabeth (Lena Paugam), jovem estagiária de uma produtora. Com pouco mais que uma hora de duração, o filme não se delonga em apresentar o triângulo amoroso. A maior parte das sequências procura explorar as turbulências emocionais vividas por cada um dos três e os conflitos existenciais que isso provoca.
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O enredo batido e já observado em tantas outras narrativas ganha o olhar sensível do cineasta para explorar outros temas que permeiam essa história de amor, insegurança e infidelidade. A questão de gênero é um deles. O roteiro mostra como as mulheres têm perspectiva diferente diante do amor e do adultério em relação ao homem, que justifica seus atos com o argumento machista de simplesmente ser homem.
O envelhecimento é outro assunto problematizado em cena. Pierre se envolve com duas mulheres de faixas etárias diferentes. Em vários momentos, Elisabeth se sente insegura e frágil por ser muito jovem perto dele. Já Manon entra em crise ao se achar velha diante da possibilidade de ser preterida por outra mulher mais nova.
A posição de subjugamento no trabalho também é evidenciada na trama. Embora seja feliz por trabalhar com o homem que ama, Manon fica em condição secundária no documentário que produz com ele. Apesar disso, Pierre não é retratado como um vilão ou alguém sem escrúpulos. Pelo contrário, a narrativa caminha justamente por essas fragilidades socialmente construídas, da qual ele, em certa medida, também é vítima.
À sombra de duas mulheres foi precedido por O ciúme (2013). Em 2017, Garrel lançou Amante de um dia. Os três filmes compõem um ensaio sobre o amor e a vulnerabilidade emocional dos amantes com seus dilemas morais.
Abaixo, confira o trailer de À sombra de duas mulheres: